segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Para ler nas férias 3


Ou isto ou aquilo

Cecília Meireles

Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo . . .
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.





sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Para ler nas férias 2


DORME RUAZINHA… É TUDO ESCURO!…


Mário Quintana


Dorme ruazinha… É tudo escuro…

E os meus passos, quem é que pode ouvi-los?

Dorme teu sono sossegado e puro,

Com teus lampiões, com teus jardins tranqüilos…


Dorme… Não há ladrões, eu te asseguro…

Nem guardas para acaso perseguí-los…

Na noite alta, como sobre um muro,

As estrelinhas cantam como grilos…


O vento está dormindo na calçada,

O vento enovelou-se como um cão…

Dorme, ruazinha… Não há nada…


Só os meus passos… Mas tão leves são,

Que até parecem, pela madrugada,

Os da minha futura assombração…


Do livro: Antologia poética para a infância e a juventude, Ed. Henriqueta Lisboa, Rio de Janeiro, INL:1961.


Abaixo, uma valsinha brasileira - aqui interpretada pelo cantor Yamandu Costa - composta em 1940. A melodia é de Newton Teixeira e a letra de Jorge Faraj. Ouçam o que fazia sucesso no Brasil nessa época.






sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Para ler nas férias!

Manuel Bandeira.

Cotovia


— Alô, cotovia!
Aonde voaste,
Por onde andaste,
Que saudades me deixaste?


— Andei onde deu o vento.
Onde foi meu pensamento
Em sítios, que nunca viste,
De um país que não existe . . .
Voltei, te trouxe a alegria.


— Muito contas, cotovia!
E que outras terras distantes
Visitaste? Dize ao triste.


— Líbia ardente, Cítia fria,
Europa, França, Bahia . . .


— E esqueceste Pernambuco,
Distraída?


— Voei ao Recife, no Cais
Pousei na Rua da Aurora.


— Aurora da minha vida
Que os anos não trazem mais!


— Os anos não, nem os dias,
Que isso cabe às cotovias.
Meu bico é bem pequenino
Para o bem que é deste mundo:
Se enche com uma gota de água.
Mas sei torcer o destino,
Sei no espaço de um segundo
Limpar o pesar mais fundo.
Voei ao Recife, e dos longes
Das distâncias, aonde alcança
Só a asa da cotovia,
— Do mais remoto e perempto
Dos teus dias de criança
Te trouxe a extinta esperança,
Trouxe a perdida alegria.

Leia, ouvindo!


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segunda-feira, 1 de setembro de 2008

A expansão territorial dos EUA no século XIX.

No século XIX, os norte-americanos acreditavam que haviam sido escolhidos por Deus para liderarem o mundo e nada, nem ninguém, poderia impedi-los. Essa crença ficou conhecida como a Doutrina do Destino Manifesto. Essa doutrina foi a razão ideológica que moveu os americanos, no século XIX, a expandirem seu território na direção oeste.


A pergunta que podemos fazer, é: por que os americanos expandiram seu território? Ou por outra: quais seriam as causas dessa expansão territorial? A resposta apresenta dois aspectos básicos:

  1. o desenvolvimento econômico dos Estados Unidos no século XIX exigia a ampliação do território;
  2. o grande contingente de imigrantes europeus que foram para a América em busca de novas oportunidades fez crescer a pressão por terras.

Em 1862, no governo Lincoln, foi aprovada uma lei que dava, àqueles que cultivassem por 5 anos,terras no oeste, o direito de possuírem 160 acres dessas terras. Essa lei, conhecida como Homestead Act, atraiu ainda mais imigrantes europeus para os Estados Unidos

.

Estes dois fatores, combinados, foram responsáveis pela expansão territorial dos Estados Unidos no século XIX.

Outra aspecto importante dessa expansão, é saber como, de que maneira, quais foram os mecanismos de conquista desses territórios. Para isso, a partir de agora, você precisa ler com calma e analisar com cuidado os mapas abaixo

Mecanismos de Conquista

a) Compra de Territórios

Pelo Tratado de Versalhes, 1783, firmado com a Inglaterra, o território dos Estados Unidos abrangia da Costa do Atlântico até o Mississipi.

No século XIX, essa realidade se altera consideravelmente. Em direção ao Oeste aparece o território da Louisiana, colônia francesa, que Napoleão Bonaparte - devido às guerras na Europa e Antilhas, Haiti - negociou com os norte-americanos por 15 milhões de dólares (1803). A Flórida foi comprada dos espanhóis, em 1819, por cinco milhões de dólares. A Rússia vendeu o Alasca aos Estados Unidos por sete milhões de dólares.

b)
Diplomacia

A anexação de Óregon - Noroeste -, colônia inglesa, região que despertou pouco interesse até 1841, foi cedida aos americanos em 1846.

c) Guerra

O Sudoeste americano pertencia ao México. A conquista desse território ocorreu através da guerra. Em 1821, os colonos americanos passaram a colonizar esse território com autorização do governo mexicano, que exigiu-lhes a lealdade e a adoção da religião católica por parte dos pioneiros. A dificuldade encontrada pelo México na consolidação do Estado Nacional refletiu-se em conflitos internos e no estabelecimento de ditaduras, como a de Lópes de Sant'Anna. Esses fatos impediram um efetivo controle sobre essa região, outrora concedida. Dessa maneira, o Texas estava fadado a compor os Estados Unidos, o que ocorreu em 1845, quando os colonos norte-americanos ali estabelecidos declararam a independência do território em relação ao México e a sua incorporação aos Estados Unidos.

A guerra estendeu-se até 1848, quando foi assinado o Tratado de Guadalupe-Hidalgo, que estabelecia o Rio Grande como linha fronteiriça entre o México e o Texas, além da cessão da Califórnia, Arizona, Novo México, Nevada, Utah e parte do Colorado aos Estados Unidos, por 15 milhões de dólares.

Em 1853, foi completada a anexação de territórios do México com a incorporação de Gadsden. Metade do território mexicano havia sido perdida para os Estados Unidos. Lázaro Cárdenas, presidente mexicano (1934-1940), em relação ao imperialismo norte-americano comentou: "Pobre México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos".

d)
A guerra de extermínio contra os indígenas

As maiores vítimas da marcha para o Oeste foram os indígenas. Estes encontravam-se em estágios de pouco desenvolvimento se comparados aos astecas, maias e incas, daí sua dificuldade para resistir ao domínio e força dos brancos europeus.
Os norte-americanos acreditavam que, além de serem os predestinados por Deus a ocuparem todo o território, deveriam cumprir a missão de civilizar outros povos.

As tribos do Sul, mais desenvolvidas, proporcionaram uma resistência maior à ocupação do branco. No entanto, a única opção das tribos indígenas foi a ocupação de terras inférteis em direção ao Pacífico, até o seu extermínio. Hoje, os remanescentes desses povos vivem em reservas indígenas espalhadas pelo país.


MAPA 1

A parte rosa do mapa foram as terras que a Inglaterra cedeu aos Estados Unidos através do Tratado de Versalhes, de 1783 e que reconhecia a independência do novo país. Você seria capaz de localizar o território das 13 colônias?

Mapa 2

Abaixo, você tem, por data, todas as conquistas territoriais dos Estados Unidos. Clique no mapa e observe com riqueza de detalhes.


Esse país imenso, com uma economia forte e em pleno desenvolvimento no século XIX, contudo, ainda tinha um sério problema a resolver. Os Estados Unidos apresentavam dois modelos econômicos: os estados do norte eram industrializados e usavam mã0-de-obra livre; os estados do sul, eram agro-exportadores e escravistas. Esas diferenças seriam responsáveis por uma guerra que quase dividiu o país em dois. Mas isso fica para o outro post.

sábado, 23 de agosto de 2008

Música que gosto - 2

Quando eu tinha a idade de vocês - e isso já faz tempo, queridos – costumava ir à casa de minha tia, que fica numa cidade próxima a Recife, chamada Camaragibe. Lá passava muito tempo olhando para uns quadros que decoravam a sala e ficava imaginando, observando com atenção as paisagens retratadas nos quadros, pensando: "como seria bom se eu pudesse, por mágica, transportar-me para dentro daqueles quadros." Não riam, afinal, eu não era adulto e por isso tinha todo o direito do mundo de criar minhas fantasias e meus sonhos.

Dois quadros me chamavam a atenção. No primeiro, havia uma casa grande e velha com uma escada alta, de pedra, com vários degraus e que dava acesso à porta dos fundos. Embaixo, algumas pessoas conversando no quintal enquanto galinhas ciscavam próximas a elas. O quadro parecia, ou pretendia representar, uma cena bucólica do século XVIII ou XIX. O bucolismo da cena me tocava. Eu queria estar ali, sentado num degrau da escada, observando os adultos conversando sobre assuntos “que não eram para criança”, tangendo as galinhas e, quem sabe, chupando uma manga com as mãos, sem faca, sem me preocupar com a “maneira correta de se chupar uma manga”

O outro quadro era um tanto diferente. A casa era pequena e na frente dela havia uma imensa árvore, com uma copa volumosa e um galho forte de onde pendia um balanço vazio, esperando por mim, com certeza! Ao redor, havia uma grama verdinha e ao longe um riacho que supunha gelado.

Até hoje, mesmo adulto, e sabendo de coisas sobre a vida que vocês um dia saberão, páro em frente à lojas de quadros e observo as pinturas, hipnotizado.

Não consegui encontrar na internet os quadros de minha infância, da casa de minha tia. Todavia, vou postar abaixo um belo quadro de Pierre Renoir, pintor francês do século XIX e que provoca, ao menos em mim, emoções semelhantes àquelas que sentia na "aurora da minha vida que os anos não trazem mais"


Que tal observar o quadro ouvindo Chopin?






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quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Gabarito da Prova

01) Tendo por base o mapa abaixo e o seu conhecimento sobre o assunto, responda:

Mapa 1




a) Sabemos que o continente americano, do ponto de vista cultural, está dividido em duas partes. O mapa que você vê acima representa qual das duas partes? (0,1)

Resposta: América Latina

b) Olhando para a configuração política do mapa acima, é possível afirmar que o bolivarismo, doutrina desenvolvida por Simon Bolívar, deu certo? Explique. (0,3)

Resposta: Um dos aspectos do bolivarismo era a unidade política da América latina. O mapa, acima, exibe o território da América Latina todo fragmentado, isto é, dividido em diversos países. Logo, o bolivarismo não deu certo.

02) Sobre o processo que provocou a independência das colônias hispano-americanas, julgue os itens abaixo e marque V para os verdadeiros e F para os falsos. (0,5)

a ( F ) Movimentos populares como o que ocorreu no México em 1810, indicam que os grupos populares do vice-reino doPrata tinham um projeto alternativo de independência, em que defendiam o fim dos tributos indígenas e a Reforma Agrária.
.

b) ( V ) O reformismo ilustrado e a invasão das tropas napoleônicas à Espanha foram fatores que ajudaram no processo de emancipação política das colônias espanholas da América.

c ( F ) Inimigos dos chapetones, todos os criollos desejam a independência de suas colônias, pois assim teriam mais chances de prosperarem economicamente porque com a independência não precisariam respeitar o pacto colonial.

d ( F) Líderes da independência da América, Simon Bolívar e José de San Martín juntaram forças e conseguiram libertar as colônias espanholas da América do sul. Ambos defendiam que as regiões, agora independentes, adotassem o regime republicano como forma de governo.

e ( V ) O modelo de revolução que agradava à elite criolla foi o da Revolução Americana. Como havia ocorrido nas Treze colônias inglesas da América do Norte, os criollos queriam a independência de suas colônias mantendo a mesma estrutura sócio-econômica, isto é, sem mudanças profundas no campo social e econômico.

02.1) Em 1823, o presidente dos Estados Unidos, James Monroe criou a famosa Doutrina Monroe. Qual o lema dessa doutrina? Explique esse lema. (0,3)

Resposta: O lema da Doutrina Monroe era: “A América para os americanos”. Com este lema, os Estados Unidos defendiam a idéia de que os assuntos do continente americano deveriam ser discutidos e resolvidos pelos próprios países da América, sem qualquer interferência de reinos europeus. Coerente com essa doutrina, os Estados Unidos foram os primeiros a reconhecer a independência das colônias ibérica da América.

03) Explique por que o território na América que pertenceu à Coroa espanhola, após a independência, fragmentou-se em diversos países? (0,4)

Resposta: A fragmentação territorial da América hispânica pode ser explicada pelos seguintes fatores:

· Divergências políticas e econômicas entre os criollos.

· Oposição da Inglaterra e dos Estados Unidos ao projeto do bolivarismo

· À divisão histórica da região em vice-reinos e capitanias gerais.


Esses fatores, combinados, explicam a fragmentação política da América espanhola



4) O mapa, acima, representa o Bloqueio Continental imposto por Napoleão a partir de 1806 na Europa com o objetivo de enfraquecer a economia britânica. Sobre as conseqüências desse bloqueio na história do reino de Portugal e de sua colônia americana, julgue os itens abaixo marcando V para os verdadeiros e F para os falsos. (0,5)

a ( F ) aliado histórico da França, o reino de Portugal, como se vê no mapa, aderiu desde o começo ao Bloqueio Continental, mas devido à crise econômica provocada pela interrupção do comércio com a Inglaterra, a Coroa portuguesa decide romper a aliança com a França. O resultado foi a invasão das tropas napoleônicas ao reino

b ( V ) Principal adversário de Napoleão na Europa, a Grã Bretanha, através de sua marinha, escolta a família real portuguesa durante a fuga para a sua colônia na América.

c ( V ) O apoio da Inglaterra à causa da independência das colônias hispano-americanas pode ser explicado pela dificuldade que o reino britânico encontrava para fazer comércio na Europa, devido ao Bloqueio Continental. A independência dessas colônias garantiria mercado para a crescente produção industrial da Inglaterra, amenizando os prejuízos causados pelo Bloqueio Continental.

d ( F ) A fuga da família real portuguesa para o Brasil inspirou-se na fuga do rei da Espanha, Fernando VII, que também foi ameaçado pelas tropas napoleônicas, para o vice-reino de Nova Espanha, na América do Norte.

e ( V ) Pressionado pela França de Napoleão e temendo perder sua mais importante colônia para a Inglaterra caso aderisse ao Bloqueio Continental, só restou ao Príncipe Regente, D João, a fuga para o Brasil.

04.1) Entre 1808 e 1810 dois importantes tratados foram assinados pelo Príncipe Regente, D João. Sobre esses dois tratados, responda:

a) Qual foi a principal conseqüência do Tratado de Abertura dos Portos assinado por D João em 1808? (0,3)

Resposta: Esse tratado deu à colônia a liberdade de fazer comércio com outras nações, desde que essas nações fossem aliadas de Portugal. Essa liberdade comercial põe fim ao Pacto Colonial, sendo esta a principal conseqüência desse tratado.

b) Escreva dois aspectos no Tratado de Comércio, Aliança e Amizade assinado em 1810 que beneficiavam a Inglaterra. (0,3)

Resposta: Os cidadãos ingleses tinham podiam professar sua fé anglicana livremente no Brasil; Não podiam, caso fossem acusados de crimes, ser julgados por um tribunal que não fosse inglês. O Tratado de Comércio concedia aos produtos ingleses importados uma alíquota de 15%, enquanto produtos provenientes de Portugal eram taxados em 16% e de outros países em 24%.


05) Qual o impacto que a cidade do Rio de Janeiro provocou na família real portuguesa assim que eles desembarcaram no porto da cidade? Em seguida, escreva três mudanças pela qual passou a cidade durante a permanência da família real. (0,3)

Resposta: As primeiras impressões não foram boas. A cidade do Rio de Janeiro, como outras cidades da colônia, apresentavam uma precária infra-estrutura com ruas estreitas e sujas. Escravos e libertos perambulavam pelas ruas; animais, como cavalos, despejavam seus dejetos na rua causando um odor fétido nas ruas e nas casas.

A ausência de atividades de lazer aos quais os nobres europeus estavam habituados, como ir ao teatro e passeios em jardins eram costumes desconhecidos dos moradores da cidade.

A presença da corte portuguesa na cidade provoca uma grande melhoria na infra-estrutura, o Príncipe Regente determina a criação da academia real de Belas Artes, do Teatro Real, da Imprensa Régia, de escolas de medicina, do Banco do Brasil e da Casa da Moeda; do Jardim Botânico e etc.








Boa Avaliação!


domingo, 17 de agosto de 2008

Música que gosto.

Em tempos em que "cada um no seu quadrado" e "a dança do créu" viram hits nacionais é importante lembrar que o gênio humano já foi capaz (talvez ainda seja) de produzir música e não funk. (hehehehehe)

"Professor, que tipo de música o senhor gosta?" Muitos alunos me fazem essa pergunta. A partir de hoje, inicio uma série onde a cada semana postarei uma música que é do meu agrado. Talvez vocês se surpreendam, talvez não. O que espero, de verdade, é que vocês ouçam e aprendam que existem outros gêneros musicais. Que boa música não tem idade. Que mesmo sem letra é possível, só com a melodia, saber exatamente o que um compositor sentiu ao compor uma obra musical. Querem um exemplo? Escutem Sonata ao Luar, de Beethoven, composta em 1802 e escrevam, nos comentários, o que essa música transmite. Na próxima semana revelo no que pensava Beethoven ao compor esta sonata.







segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A Fuga da Família Real Portuguesa

A origem de tudo: o bloqueio continental.

Dê um clic no mapa acima para observá-lo em mais detalhes. Perceba, que dos reinos do continente europeu, Portugal havia sido o único que ainda não tinha aderido ao Bloqueio Continental imposto por Napoleão aos reinos da Europa com o objetivo claro de enfraquecer a economia britânica, principal rival do imperador francês naquele momento.

Sabe-se que a situação do principe regente D João não era muito confortável. Se aderisse ao bloqueio, a marinha britânica bombardearia Lisboa e o que é pior: tomaria sua principal colônia, o Brasil. Ficando ao lado da Grã-Bretanha, teria seu território invadido pelas tropas napoleônicas e correria o sério risco de perder o trono para Napoleão. Fugir para o Brasil - a mais importante colônia do já enfraquecido império colonial português - era a única alternativa viável. Por quê? Transferindo a corte portuguesa para o Rio de Janeiro o trono da dinastia Bragança que governava Portugal estaria assegurado, mesmo Napoleão ocupando o território português, como, de fato, ocupou. Além disso, vindo para o Brasil, o risco de perder sua mais importante colônia estaria bastante reduzido.

Uma vez decidido pela fuga, seria fundamental planejá-la bem. Mais: era imprescindível ganhar tempo com Napoleão, isto é, dar a entender ao imperador francês que acataria suas imposições e assim atrasar ao máximo a invasão do reino. Em suas memórias, escritas na ilha de Santa Helena onde estava preso, Napoleão cunhou a seguinte frase sobre D João: "Foi o único que me enganou".

O sucesso da fuga, porém, não se deu apenas pela competência das autoridades portuguesas em enganar Napoleão. Sem a proteção da marinha britânica, os navios que conduziam a família real portuguesa para o Brasil não teriam chegado ao seu destino. A proteção da Inglaterra, portanto, foi decisiva para o sucesso da fuga.

Oh, Zé Paulo, por que se fala tanto dessa fuga da família real portuguesa para o Brasil? Só por que neste ano se completou o bicentenário dela? Também, meus caros. Mas a importância dessa fuga para o nosso país é bem maior do que apenas festejar essa data comemorativa. A história do Brasil mudou de forma definitiva a partir dela.

Chegando em Salvador, isso em janeiro de 1808, o Príncipe Regente D João assinou o importantíssimo Tratado de Abertura dos Portos. Esse tratado permitia que toda nação amiga de Portugal - em 1808 "todas as nações amigas" se resumia a Inglaterra - poderia fazer comércio livremente nos portos brasileiros. Na prática, esse tratado acabava com o pacto coloniale como não havia mais o pacto colonial, na prática o Brasil deixou de ser colônia. Foi o primeiro e um dos mais importantes passos para o processo de independência política do Brasil que só seria completado em 1822.

Em 1810, um novo tratado foi assinado por D João. "Denominado oficialmente de “Treaty of Cooperation and Friendship”, Tratado de Cooperação e Amizade, de 1810 , assinado pelo conde de Linhares e pelo lorde Strangford, eram compostos por dois acertos: um de aliança e amizade (com 11 artigos e 2 decretos) e o outro de comércio e navegação (com 34 artigos)." Este último estabelecia alíquotas diferenciadas, isto é, impostos sobre importação de produtos, com taxas distintas a depender do país. Dessa forma, os produtos ingleses eram taxados em 15%; os produtos portugueses em 16% e os produtos de outros países em 24%. Ou seja, as mercadorias inglesas foram beneficiadas por esse tratado.

Muito se diz que esses acordos beneficiaram a Inglaterra e que demonstram o grau de dependência econômica que Portugal, e depois o Brasil, tinham em relação ao Reino Unido. É inegável que os tratados beneficiaram a Inglaterra, afinal, a proteção da marinha britânica à fuga de 1808 não foi um ato de caridade. Todavia, nenhuma outra nação do mundo tinha mais capacidade de produção e comercialização do que a Inglaterra. Qualquer acordo comercial internacional relevante, pela força da economia britânica, beneficiaria os ingleses. O que pouca gente lembrar que tanto o Tratado de 1808 quanto o de 1810, dinamizaram a economia da colônia. Os produtores brasileiros conseguiram vender seus produtos por um preço melhor e a abertura comercial também proporcionou o barateamento dos preços dos produtos manufaturados (industriais), sobretudo ingleses. Melhorias impossíveis de acontecer se o pacto colonial fosse mantido.

O Estado português, que agora estava sediado na cidade do Rio de Janeiro, também se beneficiou com esses acordos. Um maior volume de comércio fez o governo arrecadar mais impostos, por exemplo. E, não esqueçam, manter uma corte que só gastava e nada produzia, convenhamos, era preciso tirar o dinheiro de algum lugar, não é? Enfim, os ingleses não se beneficiaram sozinhos com esses acordos.

O maior benefício, porém, foi que com o Tratado de 1808 (de Abertura dos Portos) e com a presença da família real portuguesa no Rio de Janeiro, o Brasil deixa de ser uma colônia subordinada aos interesses e desmandos de Lisboa. Os historiadores dizem que nesse período, era como se o Brasil fosse a metrópole e Portugal a colônia. Numa verdadeira inversão colonial.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

San Martín, Bolívar e o bolivarismo



















José de San Martín à esquerda e Símon Bolivar acima e à direita. Líderes da independência da América espanhola.

(Leia primeiro o post abaixo)

José de San Martín e Simon Bolívar foram importantes líderes na independência dos vice-reinos do Prata, Nova Granada, do Peru e das capitanias gerais do Chile e da Venezuela.

Partindo da Argentina, que havia declarado sua independência em 1816, o general San Martín libertou o Chile e comandou seus homens, cerca de 5 mil soldados, para o vice-reino do Peru, o mais fiel à coroa espanhola e o mais difícil de ser derrotado.

Simon Bolívar, com apoio da Inglaterra e dos Estados Unidos, junto com seus solados, libertou a Venezuela, a Colômbia, o Equador e encontrou o exército de San Martín no vice-reino do Peru. A ação de ambos os exércitos acabou derrotando as forças leais à Espanha no vice-reino do Peru, que também declarou sua independência em 1824.

Embora a história chame Bolívar e San Martín de “Líderes da Independência”, é importante lembrar que estes homens tinham projetos políticos diferentes. San Martín defendia um governo monárquico, enquanto Simon Bolívar defendia um governo republicano.

O BOLIVARISMO

Em 1826, no Congresso do Panamá, Simon Bolívar propõe um projeto ambicioso: a união dos territórios da América espanhola num só país republicano e independente. O sonho de uma América Latina unida, republicana e solidária ficou conhecido como bolivarismo, o primeiro exemplo de pan-americanismo do continente. Apesar de os países formados a partir das colônias espanholas da América terem adotado o sistema republicano de governo, o bolivarismo, contudo, fracassou. Veja, abaixo, porquê.

  • Os líderes criollos tinham interesses divergentes e muitas vezes opostos. Os criollos da Venezuela, por exemplo, defendiam um modelo de economia mais aberta, sem protecionismo, o que desagradava os criollos do Equador que queriam uma economia mais fechada, com protecionismo. Enfim, interesses econômicos divergentes foram um dos motivos para o fracasso do bolivarismo. No entanto, houve outros.

  • Tanto a Inglaterra quanto os Estados Unidos, países que apoiaram a independência das colônias, não apoiavam o projeto do bolivarismo, pois temiam que uma América Latina unida poderia se transformar num obstáculo para a dominação econômica que esses países pretendiam impor aos países recém- independentes.

O CASO URUGUAI

Em 1821, no extremo sul do Brasil, foi anexado ao território brasileiro uma região disputada pelo Brasil e pela Argentina. Essa região ficou conhecida como Província Cisplatina. Em 1825, Brasil e Argentina passaram a disputar a região, dando início à chamada Guerra da Cisplatina. Após três anos de conflitos e com a interferência da Inglaterra, os beligerantes assinam um acordo de paz e o território em disputa torna-se um novo país: a República Oriental do Uruguai.

Por que a América espanhola, após a independência, fragmentou-se em diversos países?

As razões que explicam o fracasso do bolivarismo, também explicam o fato de os territórios dos vice-reinos, depois de conquistada a independência, terem se fragmentado em países menores. Uma outra causa, para somar-se às demais, deve ser lembrada:

cada vice-reino e cada capitania geral era uma colônia à parte (lembre-se que na América espanhola havia 4 vices-reinos e 4 capitanias gerais), desse modo, não havia entre os vice-reinos da Espanha na América qualquer ligação. Era como se fossem colônia separadas. Elas não se sentiam pertencentes a um mesmo grupo. Também por isso, o sonho do bolivarismo fracassou.

PERGUNTAS

01) Qual a principal diferença no projeto político de independência do general San Martín e do general Simon Bolívar?

02) Defina o bolivarismo e, em seguida, apresente três razões para o seu fracasso.

03) Como se deu a independência do Uruguai?

As Guerras de Independência

As guerras pela independência das colônias hispano-americanas foram longas e sangrentas. Entre 1810 e 1824, criollos favoráveis e contrários à emancipação, chapetones, índios, mestiços e escravos, enfim, todos os grupos sociais da América espanhola, envolveram-se em batalhas cruentas.

Os historiadores dividem o período dessas guerras em duas fases. Cada uma dessas fases tem características particulares e é importante que você as conheça.

Primeira Fase (1810-1814)

Nessa fase, o rei da Espanha, Fernando VII estava afastado do trono. A Espanha era então governada pelo irmão de Napoleão, José Bonaparte. Essa primeira fase apresentou três características importantes:

  • O apoio da Inglaterra à causa da independência das colônias

  • A luta entre criollos favoráveis à independência e crillos contrários à emancipação. Estes últimos tinham o apoio dos chapetones.

  • A luta dos criollos contra movimentos de emancipação de cunho popular, isto é, compostos por índios, mestiços e escravos, apoiados e liderados pelo baixo clero católico.

Apesar das lutas, poucas colônias conseguiram, nessa fase, a emancipação da Espanha. A maioria continuou sob o poder da Metrópole.

Segunda Fase (1815 – 1824)

Em 1815 Napoleão havia sido derrotado na Europa. Fernando VII havia recuperado o trono e procurou readquirir o controle sobre suas colônias americanas. Todavia, o movimento pela independência persistiu e havia conseguido mais adeptos, sobretudo por causa das ameaças do rei em restaurar o Pacto Colonial e limitar ainda mais a autonomia dos criollos. Entre as características dessa segunda fase, podemos destacar:

  • A Inglaterra, em 1815, durante o Congresso de Viena, por causa da aliança com a Espanha na Europa, retirou, oficialmente, seu apoio à causa pela independência das colônias hispano-americanas; contudo, em 1817, por causa de sua grande produção industrial, voltou a apoiar publicamente a independência dessas colônias.

  • Nessa fase, os movimentos rebeldes de origem popular tinham sido definitivamente derrotados.

  • Foi na Segunda Fase que a maioria das colônias da América espanhola conquistaram sua independência.

  • Em 1823, o presidente norte-americano, James Monroe, lança sua famosa Doutrina Monroe. Essa doutrina, baseada no lema “a América para os americanos”, rejeitava toda e qualquer interferência de reinos europeus sobre o continente americano.


Firmados nessa doutrina, os Estados Unidos não só apoiaram a independência das colônias americanas como foram os primeiros a reconhecer, oficialmente, a independência dessas colônias.

A independência do México. (Vice-reino de Nova Espanha)

Augustín de Iturbide- proclamou a independência do México.

Em 1810, no vice-reino de Nova Espanha, setores populares liderados por padres católicos, lutaram por um projeto alternativo da independência. O padre Miguel Hidalgo y Costilla, liderando um grupo de indígenas e mestiços representou uma grande ameaça aos interesses dos criollos, pois defendia a reforma agrária, o fim dos tributos indígenas e o fim da escravidão. Está claro para vocês que essas propostas não agradavam nem a elite criolla nem aos chapetones, que juntaram forças e conseguiram prender o padre Hidalgo, que acabou condenado à morte por fuzilamento.

Em 1811, outro padre católico, José Maria Morelos y Pavón, retomou a luta do padre Hidalgo, mas assim como acontecera ao outro religioso, seu movimento popular foi derrotado pelos criollos e pelos chapetones. Em suma: o projeto popular de independência, que defendia o fim do tráfico de escravos, da exploração indígena e da reforma agrária, fracassou.

Para acalmar o vice-reino de Nova Espanha, o rei Fernando VII enviou o líder Augustín de Iturbide. Todavia, ao invés de pôr um fim às lutas pela independência, Iturbide converteu-se à causa da emancipação. Em 1821, junto com líderes criollos rebeldes, Iturbide assinou o famoso Plano de Iguala (1821) proclamando a independência do México.

Apesar de Iturbide ter se declarado imperador, fundando uma monarquia, criollos insatisfeitos o depuseram, e em 1824 fundaram uma república no país.

PERGUNTAS:

01) Revoltas populares, como as que foram lideradas pelos padres Miguel Hidalgo e José Maria no vice-reino de Nova Espanha, apresentavam um projeto alternativo de independência para as colônias hispano-americanas. Quais as propostas principais dessas revoltas populares? Por que os criollos lutaram contra esse projeto?

02) Que interesses tinha a Inglaterra na independência das colônias hispano-americanas? Explique por que, em 1815, a Inglaterra retirou o seu apoio pela independência das colônias.

03) Qual o lema da Doutrina Monroe? Explique, baseado nessa doutrina, porque os Estados Unidos foram os primeiros a reconhecer a independência das colônias da América Latina?

segunda-feira, 28 de julho de 2008

A Independência da América espanhola

O mapa, acima, é o da América Latina. Observe-o com atenção. Veja que os países do subcontinente apresentam dimensões territoriais distintas. O Brasil, por exemplo, é o maior país da América Latina em extensão territorial. A pergunta principal é a seguinte: por que a América hispânica que foi colonizada pelos espanhóis, que apresenta o mesmo idioma e semelhanças culturais, ao conseguir sua independência, não formou um único país? É o que explicaremos ao estudarmos o capítulo 6 do seu livro de história. Por enquanto, vamos entender como se deu o processo de independência da América espanhola.

No final do século XVIII e início do século XIX, o Antigo Regime (o absolutismo do rei, os privilégios sociais e o Pacto Colonial) estava em crise. As idéias iluministas, como vimos, criticavam duramente essas características do Antigo Regime. Além disso, as revoluções americana e francesa, ambas no final do século XVIII, despertaram nas elites coloniais e mesmo nos setores populares da colônia (classe média e pobres) o desejo pela independência. Por causa disso, movimentos pela emancipação ocorreram tanto na América portuguesa (Brasil) quanto na América espanhola, a partir do final do século XVIII. O que vai nos interessar, por enquanto, é a independência da América espanhola.

Quando os criollos pensavam na independência, dois exemplos ou modelos de revoluções eles podiam seguir: a Revolução Americana e a Revolução Francesa. Por causa das características da Revolução Americana, os criollos tiveram mais simpatia por ela do que pela Revolução Francesa. Os criollos não queriam mudanças sociais e econômicas profundas, queriam, na prática, apenas substituir os chapetones no governo das colônias, mantendo, portanto, a escravidão, a exploração do trabalho indígena e a concentração de terras. Não passava pela cabeça dos criollos dar direitos políticos às camadas mais pobres da colônia, como índios, mestiços e escravos.

Não esqueça!

  • O processo de independência da América hispânica foi conduzido e liderado pelos criollos. Pode-se afirmar com segurança que se não fossem por eles, a independência das colônias espanholas da América não teria ocorrido. Basta lembrar que de todos os movimentos populares liderados por índios, mestiços e escravos que existiram na América espanhola, nenhum saiu vitorioso.
  • Nem todos os criollos, contudo, queriam a independência. Havia um grupo de criollos que se beneficiava do Pacto Colonial, estes, por razões óbvias, eram contrários à idéia de independência.


Como nasceu o desejo pela independência?

Que os criollos, a maioria pelo menos, estavam insatisfeitos com a Coroa espanhola por causa dos impostos cobrados e por causa do Pacto Colonial, vocês já sabem. Que eles odiavam os chapetones por conta dos privilégios que estes tinham, não é segredo para vocês. O que vocês ainda não sabem é que além desses fatores, outros também incentivaram os criollos no seu desejo pela independência. Que fatores foram esses?

  • O reformismo ilustrado.
Para tentar modernizar a economia espanhola, que no final do século XVIII passava por uma crise, o rei da Espanha implantou reformas econômicas e políticas baseadas nas idéias iluministas, por isso esse conjunto de reformas ficou conhecido como reformismo ilustrado. No caso das colônias espanholas da América, essas reformas reforçaram o Pacto Colonial e tornaram a cobrança de impostos sobre as colônias mais eficiente. Medidas que desagradaram a elite criolla. Do ponto de vista político o reformismo ilustrado permitiu que os criollos ocupassem alguns cargos e desempenhassem algumas funções antes destinadas apenas aos chapetones o que acabou aumentando a rivalidade entre esses grupos. Embora essas reformas tenham afrouxado um pouco o comércio nas colônias, na prática a coroa espanhola detinha o controle desse comércio.

  • A invasão da Espanha pelas tropas napoleônicas em 1808.

Quando em 1808 a Espanha rompeu o pacto de aliança que tinha com a França, Napoleão reagiu da forma que ele mais conhecia: invadiu o reino e destronou o monarca espanhol Fernando VII, pondo em seu lugar, como novo rei da Espanha, seu próprio irmão, José Bonaparte. Talvez Napoleão não soubesse, mas essa decisão daria início ao processo de independência da América espanhola. Por quê?

Diante da ocupação francesa da Espanha, os criollos, com a justificativa de que não aceitariam obedecer aos franceses, formaram em suas colônias juntas governativas, que na prática significava o seguinte: quem passaria a governar as colônias seriam os criollos. Com o tempo, contudo, essa experiência de autonomia fez alguns criollos darem um passo além: passaram a defender abertamente a separação da colônia de sua metrópole, ou seja, a independência.

Questões Propostas!


01) Que características havia na Revolução Americana que agradavam a elite criolla?

02) Nem todos os criollos eram favoráveis à independência das colônias hispânicas. Por quê?

03) Que dados nos levam a afirmar que, sem a liderança dos criollos, a independência das colônias espanholas da América não teria ocorrido?

04) Como o reformismo ilustrado e a invasão da Espanha pelas tropas francesas em 1808, ajudaram no processo de independência da América espanhola?

sábado, 12 de julho de 2008

Enquanto isso, nas férias...

Quem irá ler esse post? Quem de férias perderá o seu tempo acessando a Internet e lendo esse blog? Sei lá! Mas caso alguns de vocês passem por aqui, leiam com atenção o que vai abaixo, e, claro, responda o que se pede.

O que todo estudante deve buscar e o que todo professor, seja de qualquer disciplina, deve incentivar é o bom uso da Língua Portuguesa. Há certas coisas, meus queridos, que quando a gente não aprende ou aprende de maneira débil, para recuperar é uma tarefa hercúlea! Por isso, se há uma disciplina em que vocês precisam ser melhores do que em qualquer outra, é a Língua Portuguesa. Dedique-se a ela com afinco. Não repita o discurso bocó de que o importante é se comunicar. Claro que saber se comunicar é importante, mas fazê-lo com estilo é prova de esmero e respeito à sua língua materna.

Há, na gramática, dois assuntos conhecidos como Figuras de Linguagem e Figuras do Pensamento. Conhecê-las, mas sobretudo, usá-las, tornará sua escrita mais rica, mais bonita e mais clara! Além do mais, no dia-a-dia, mesmo sem saber, nós usamos as figuras de linguagem e as figuras de pensamento. Querem ver?

Quem nunca disse ou ouviu: “Li na orelha do livro”; “tropecei no da mesa.” “estou com uma dor no do ouvido e da barriga”. Pois bem. Todo mundo sabe que livro não tem orelha; muito menos mesa, ouvido e barriga, têm pé. Nós usamos esses termos porque nos falta um nome mais adequado. Nos casos acima, ocorre uma figura de linguagem conhecida como catacrese.

Já imaginou, na mesa de jantar, surpreender seus pais quando eles falarem: “menino de Deus, vai ajeitar as pernas dessa calça!” Aí, todo ancho, você responde: “ os senhores e as suas catacreses, hein!”

Uma das figuras do pensamento que mais aprecio, pela gentileza que ela encerra, é o eufemismo. O eufemismo é uma figura que tem o poder de suavizar uma expressão desagradável. Todas as vezes que optamos por amenizar uma expressão para torná-la menos ofensiva ou dolorosa, nós usamos um eufemismo. Abaixo, vou postar um poema de Manuel Bandeira chamado PROFUNDAMENTE. Vocês podem lê-lo e/ou ouvi-lo. Quero apenas que vocês, nos comentários, identifiquem o trecho onde ocorre um eufemismo. Além disso, vocês poderiam construir duas frases dando, em cada uma, um exemplo de catacrese e de eufemismo. O que acham? Mãos à obra!

>Profundamente
Manuel Bandeira

Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.

No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam, errantes

Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?

— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.
*

Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?

— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.

Texto extraído do livro "Antologia Poética - Manuel Bandeira", Editora Nova Fronteira – Rio de Janeiro, 2001, pág. 81.