Quando eu tinha a idade de vocês - e isso já faz tempo, queridos – costumava ir à casa de minha tia, que fica numa cidade próxima a Recife, chamada Camaragibe. Lá passava muito tempo olhando para uns quadros que decoravam a sala e ficava imaginando, observando com atenção as paisagens retratadas nos quadros, pensando: "como seria bom se eu pudesse, por mágica, transportar-me para dentro daqueles quadros." Não riam, afinal, eu não era adulto e por isso tinha todo o direito do mundo de criar minhas fantasias e meus sonhos.
Dois quadros me chamavam a atenção. No primeiro, havia uma casa grande e velha com uma escada alta, de pedra, com vários degraus e que dava acesso à porta dos fundos. Embaixo, algumas pessoas conversando no quintal enquanto galinhas ciscavam próximas a elas. O quadro parecia, ou pretendia representar, uma cena bucólica do século XVIII ou XIX. O bucolismo da cena me tocava. Eu queria estar ali, sentado num degrau da escada, observando os adultos conversando sobre assuntos “que não eram para criança”, tangendo as galinhas e, quem sabe, chupando uma manga com as mãos, sem faca, sem me preocupar com a “maneira correta de se chupar uma manga”
O outro quadro era um tanto diferente. A casa era pequena e na frente dela havia uma imensa árvore, com uma copa volumosa e um galho forte de onde pendia um balanço vazio, esperando por mim, com certeza! Ao redor, havia uma grama verdinha e ao longe um riacho que supunha gelado.
Até hoje, mesmo adulto, e sabendo de coisas sobre a vida que vocês um dia saberão, páro em frente à lojas de quadros e observo as pinturas, hipnotizado.
Não consegui encontrar na internet os quadros de minha infância, da casa de minha tia. Todavia, vou postar abaixo um belo quadro de Pierre Renoir, pintor francês do século XIX e que provoca, ao menos em mim, emoções semelhantes àquelas que sentia na "aurora da minha vida que os anos não trazem mais"
Que tal observar o quadro ouvindo Chopin?
3 comentários:
professor que música linda *-*
Marcela, 81
Não sabia que existia um nome para essa sensação, foi muito bom descobrir! Ah e sim, neste momento, ouvindo à essa música, realmente gostaria de estar no ambiente do quadro! (Sinto que não consigo expessar sentimentos com exatidão quando escrevo, desconheço o motivo. Pois muito me entristeço por não conseguir descrever o quanto queria estar nessa cena.) Será qu ainda existem tantos lugares assim, professor? Encontro com muita dificuldade. Meu último passeio ao campo foi marcado por uma perseguição de camelôs e de carrocinhas de cachorro quente. É, me parece que fica cada vez mais raro encontrar um lugar onde o comércio ainda não lançou as garras.
Nos vemos.
Tatiana Moniz
T: 81
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