quarta-feira, 30 de julho de 2008

San Martín, Bolívar e o bolivarismo



















José de San Martín à esquerda e Símon Bolivar acima e à direita. Líderes da independência da América espanhola.

(Leia primeiro o post abaixo)

José de San Martín e Simon Bolívar foram importantes líderes na independência dos vice-reinos do Prata, Nova Granada, do Peru e das capitanias gerais do Chile e da Venezuela.

Partindo da Argentina, que havia declarado sua independência em 1816, o general San Martín libertou o Chile e comandou seus homens, cerca de 5 mil soldados, para o vice-reino do Peru, o mais fiel à coroa espanhola e o mais difícil de ser derrotado.

Simon Bolívar, com apoio da Inglaterra e dos Estados Unidos, junto com seus solados, libertou a Venezuela, a Colômbia, o Equador e encontrou o exército de San Martín no vice-reino do Peru. A ação de ambos os exércitos acabou derrotando as forças leais à Espanha no vice-reino do Peru, que também declarou sua independência em 1824.

Embora a história chame Bolívar e San Martín de “Líderes da Independência”, é importante lembrar que estes homens tinham projetos políticos diferentes. San Martín defendia um governo monárquico, enquanto Simon Bolívar defendia um governo republicano.

O BOLIVARISMO

Em 1826, no Congresso do Panamá, Simon Bolívar propõe um projeto ambicioso: a união dos territórios da América espanhola num só país republicano e independente. O sonho de uma América Latina unida, republicana e solidária ficou conhecido como bolivarismo, o primeiro exemplo de pan-americanismo do continente. Apesar de os países formados a partir das colônias espanholas da América terem adotado o sistema republicano de governo, o bolivarismo, contudo, fracassou. Veja, abaixo, porquê.

  • Os líderes criollos tinham interesses divergentes e muitas vezes opostos. Os criollos da Venezuela, por exemplo, defendiam um modelo de economia mais aberta, sem protecionismo, o que desagradava os criollos do Equador que queriam uma economia mais fechada, com protecionismo. Enfim, interesses econômicos divergentes foram um dos motivos para o fracasso do bolivarismo. No entanto, houve outros.

  • Tanto a Inglaterra quanto os Estados Unidos, países que apoiaram a independência das colônias, não apoiavam o projeto do bolivarismo, pois temiam que uma América Latina unida poderia se transformar num obstáculo para a dominação econômica que esses países pretendiam impor aos países recém- independentes.

O CASO URUGUAI

Em 1821, no extremo sul do Brasil, foi anexado ao território brasileiro uma região disputada pelo Brasil e pela Argentina. Essa região ficou conhecida como Província Cisplatina. Em 1825, Brasil e Argentina passaram a disputar a região, dando início à chamada Guerra da Cisplatina. Após três anos de conflitos e com a interferência da Inglaterra, os beligerantes assinam um acordo de paz e o território em disputa torna-se um novo país: a República Oriental do Uruguai.

Por que a América espanhola, após a independência, fragmentou-se em diversos países?

As razões que explicam o fracasso do bolivarismo, também explicam o fato de os territórios dos vice-reinos, depois de conquistada a independência, terem se fragmentado em países menores. Uma outra causa, para somar-se às demais, deve ser lembrada:

cada vice-reino e cada capitania geral era uma colônia à parte (lembre-se que na América espanhola havia 4 vices-reinos e 4 capitanias gerais), desse modo, não havia entre os vice-reinos da Espanha na América qualquer ligação. Era como se fossem colônia separadas. Elas não se sentiam pertencentes a um mesmo grupo. Também por isso, o sonho do bolivarismo fracassou.

PERGUNTAS

01) Qual a principal diferença no projeto político de independência do general San Martín e do general Simon Bolívar?

02) Defina o bolivarismo e, em seguida, apresente três razões para o seu fracasso.

03) Como se deu a independência do Uruguai?

As Guerras de Independência

As guerras pela independência das colônias hispano-americanas foram longas e sangrentas. Entre 1810 e 1824, criollos favoráveis e contrários à emancipação, chapetones, índios, mestiços e escravos, enfim, todos os grupos sociais da América espanhola, envolveram-se em batalhas cruentas.

Os historiadores dividem o período dessas guerras em duas fases. Cada uma dessas fases tem características particulares e é importante que você as conheça.

Primeira Fase (1810-1814)

Nessa fase, o rei da Espanha, Fernando VII estava afastado do trono. A Espanha era então governada pelo irmão de Napoleão, José Bonaparte. Essa primeira fase apresentou três características importantes:

  • O apoio da Inglaterra à causa da independência das colônias

  • A luta entre criollos favoráveis à independência e crillos contrários à emancipação. Estes últimos tinham o apoio dos chapetones.

  • A luta dos criollos contra movimentos de emancipação de cunho popular, isto é, compostos por índios, mestiços e escravos, apoiados e liderados pelo baixo clero católico.

Apesar das lutas, poucas colônias conseguiram, nessa fase, a emancipação da Espanha. A maioria continuou sob o poder da Metrópole.

Segunda Fase (1815 – 1824)

Em 1815 Napoleão havia sido derrotado na Europa. Fernando VII havia recuperado o trono e procurou readquirir o controle sobre suas colônias americanas. Todavia, o movimento pela independência persistiu e havia conseguido mais adeptos, sobretudo por causa das ameaças do rei em restaurar o Pacto Colonial e limitar ainda mais a autonomia dos criollos. Entre as características dessa segunda fase, podemos destacar:

  • A Inglaterra, em 1815, durante o Congresso de Viena, por causa da aliança com a Espanha na Europa, retirou, oficialmente, seu apoio à causa pela independência das colônias hispano-americanas; contudo, em 1817, por causa de sua grande produção industrial, voltou a apoiar publicamente a independência dessas colônias.

  • Nessa fase, os movimentos rebeldes de origem popular tinham sido definitivamente derrotados.

  • Foi na Segunda Fase que a maioria das colônias da América espanhola conquistaram sua independência.

  • Em 1823, o presidente norte-americano, James Monroe, lança sua famosa Doutrina Monroe. Essa doutrina, baseada no lema “a América para os americanos”, rejeitava toda e qualquer interferência de reinos europeus sobre o continente americano.


Firmados nessa doutrina, os Estados Unidos não só apoiaram a independência das colônias americanas como foram os primeiros a reconhecer, oficialmente, a independência dessas colônias.

A independência do México. (Vice-reino de Nova Espanha)

Augustín de Iturbide- proclamou a independência do México.

Em 1810, no vice-reino de Nova Espanha, setores populares liderados por padres católicos, lutaram por um projeto alternativo da independência. O padre Miguel Hidalgo y Costilla, liderando um grupo de indígenas e mestiços representou uma grande ameaça aos interesses dos criollos, pois defendia a reforma agrária, o fim dos tributos indígenas e o fim da escravidão. Está claro para vocês que essas propostas não agradavam nem a elite criolla nem aos chapetones, que juntaram forças e conseguiram prender o padre Hidalgo, que acabou condenado à morte por fuzilamento.

Em 1811, outro padre católico, José Maria Morelos y Pavón, retomou a luta do padre Hidalgo, mas assim como acontecera ao outro religioso, seu movimento popular foi derrotado pelos criollos e pelos chapetones. Em suma: o projeto popular de independência, que defendia o fim do tráfico de escravos, da exploração indígena e da reforma agrária, fracassou.

Para acalmar o vice-reino de Nova Espanha, o rei Fernando VII enviou o líder Augustín de Iturbide. Todavia, ao invés de pôr um fim às lutas pela independência, Iturbide converteu-se à causa da emancipação. Em 1821, junto com líderes criollos rebeldes, Iturbide assinou o famoso Plano de Iguala (1821) proclamando a independência do México.

Apesar de Iturbide ter se declarado imperador, fundando uma monarquia, criollos insatisfeitos o depuseram, e em 1824 fundaram uma república no país.

PERGUNTAS:

01) Revoltas populares, como as que foram lideradas pelos padres Miguel Hidalgo e José Maria no vice-reino de Nova Espanha, apresentavam um projeto alternativo de independência para as colônias hispano-americanas. Quais as propostas principais dessas revoltas populares? Por que os criollos lutaram contra esse projeto?

02) Que interesses tinha a Inglaterra na independência das colônias hispano-americanas? Explique por que, em 1815, a Inglaterra retirou o seu apoio pela independência das colônias.

03) Qual o lema da Doutrina Monroe? Explique, baseado nessa doutrina, porque os Estados Unidos foram os primeiros a reconhecer a independência das colônias da América Latina?

segunda-feira, 28 de julho de 2008

A Independência da América espanhola

O mapa, acima, é o da América Latina. Observe-o com atenção. Veja que os países do subcontinente apresentam dimensões territoriais distintas. O Brasil, por exemplo, é o maior país da América Latina em extensão territorial. A pergunta principal é a seguinte: por que a América hispânica que foi colonizada pelos espanhóis, que apresenta o mesmo idioma e semelhanças culturais, ao conseguir sua independência, não formou um único país? É o que explicaremos ao estudarmos o capítulo 6 do seu livro de história. Por enquanto, vamos entender como se deu o processo de independência da América espanhola.

No final do século XVIII e início do século XIX, o Antigo Regime (o absolutismo do rei, os privilégios sociais e o Pacto Colonial) estava em crise. As idéias iluministas, como vimos, criticavam duramente essas características do Antigo Regime. Além disso, as revoluções americana e francesa, ambas no final do século XVIII, despertaram nas elites coloniais e mesmo nos setores populares da colônia (classe média e pobres) o desejo pela independência. Por causa disso, movimentos pela emancipação ocorreram tanto na América portuguesa (Brasil) quanto na América espanhola, a partir do final do século XVIII. O que vai nos interessar, por enquanto, é a independência da América espanhola.

Quando os criollos pensavam na independência, dois exemplos ou modelos de revoluções eles podiam seguir: a Revolução Americana e a Revolução Francesa. Por causa das características da Revolução Americana, os criollos tiveram mais simpatia por ela do que pela Revolução Francesa. Os criollos não queriam mudanças sociais e econômicas profundas, queriam, na prática, apenas substituir os chapetones no governo das colônias, mantendo, portanto, a escravidão, a exploração do trabalho indígena e a concentração de terras. Não passava pela cabeça dos criollos dar direitos políticos às camadas mais pobres da colônia, como índios, mestiços e escravos.

Não esqueça!

  • O processo de independência da América hispânica foi conduzido e liderado pelos criollos. Pode-se afirmar com segurança que se não fossem por eles, a independência das colônias espanholas da América não teria ocorrido. Basta lembrar que de todos os movimentos populares liderados por índios, mestiços e escravos que existiram na América espanhola, nenhum saiu vitorioso.
  • Nem todos os criollos, contudo, queriam a independência. Havia um grupo de criollos que se beneficiava do Pacto Colonial, estes, por razões óbvias, eram contrários à idéia de independência.


Como nasceu o desejo pela independência?

Que os criollos, a maioria pelo menos, estavam insatisfeitos com a Coroa espanhola por causa dos impostos cobrados e por causa do Pacto Colonial, vocês já sabem. Que eles odiavam os chapetones por conta dos privilégios que estes tinham, não é segredo para vocês. O que vocês ainda não sabem é que além desses fatores, outros também incentivaram os criollos no seu desejo pela independência. Que fatores foram esses?

  • O reformismo ilustrado.
Para tentar modernizar a economia espanhola, que no final do século XVIII passava por uma crise, o rei da Espanha implantou reformas econômicas e políticas baseadas nas idéias iluministas, por isso esse conjunto de reformas ficou conhecido como reformismo ilustrado. No caso das colônias espanholas da América, essas reformas reforçaram o Pacto Colonial e tornaram a cobrança de impostos sobre as colônias mais eficiente. Medidas que desagradaram a elite criolla. Do ponto de vista político o reformismo ilustrado permitiu que os criollos ocupassem alguns cargos e desempenhassem algumas funções antes destinadas apenas aos chapetones o que acabou aumentando a rivalidade entre esses grupos. Embora essas reformas tenham afrouxado um pouco o comércio nas colônias, na prática a coroa espanhola detinha o controle desse comércio.

  • A invasão da Espanha pelas tropas napoleônicas em 1808.

Quando em 1808 a Espanha rompeu o pacto de aliança que tinha com a França, Napoleão reagiu da forma que ele mais conhecia: invadiu o reino e destronou o monarca espanhol Fernando VII, pondo em seu lugar, como novo rei da Espanha, seu próprio irmão, José Bonaparte. Talvez Napoleão não soubesse, mas essa decisão daria início ao processo de independência da América espanhola. Por quê?

Diante da ocupação francesa da Espanha, os criollos, com a justificativa de que não aceitariam obedecer aos franceses, formaram em suas colônias juntas governativas, que na prática significava o seguinte: quem passaria a governar as colônias seriam os criollos. Com o tempo, contudo, essa experiência de autonomia fez alguns criollos darem um passo além: passaram a defender abertamente a separação da colônia de sua metrópole, ou seja, a independência.

Questões Propostas!


01) Que características havia na Revolução Americana que agradavam a elite criolla?

02) Nem todos os criollos eram favoráveis à independência das colônias hispânicas. Por quê?

03) Que dados nos levam a afirmar que, sem a liderança dos criollos, a independência das colônias espanholas da América não teria ocorrido?

04) Como o reformismo ilustrado e a invasão da Espanha pelas tropas francesas em 1808, ajudaram no processo de independência da América espanhola?

sábado, 12 de julho de 2008

Enquanto isso, nas férias...

Quem irá ler esse post? Quem de férias perderá o seu tempo acessando a Internet e lendo esse blog? Sei lá! Mas caso alguns de vocês passem por aqui, leiam com atenção o que vai abaixo, e, claro, responda o que se pede.

O que todo estudante deve buscar e o que todo professor, seja de qualquer disciplina, deve incentivar é o bom uso da Língua Portuguesa. Há certas coisas, meus queridos, que quando a gente não aprende ou aprende de maneira débil, para recuperar é uma tarefa hercúlea! Por isso, se há uma disciplina em que vocês precisam ser melhores do que em qualquer outra, é a Língua Portuguesa. Dedique-se a ela com afinco. Não repita o discurso bocó de que o importante é se comunicar. Claro que saber se comunicar é importante, mas fazê-lo com estilo é prova de esmero e respeito à sua língua materna.

Há, na gramática, dois assuntos conhecidos como Figuras de Linguagem e Figuras do Pensamento. Conhecê-las, mas sobretudo, usá-las, tornará sua escrita mais rica, mais bonita e mais clara! Além do mais, no dia-a-dia, mesmo sem saber, nós usamos as figuras de linguagem e as figuras de pensamento. Querem ver?

Quem nunca disse ou ouviu: “Li na orelha do livro”; “tropecei no da mesa.” “estou com uma dor no do ouvido e da barriga”. Pois bem. Todo mundo sabe que livro não tem orelha; muito menos mesa, ouvido e barriga, têm pé. Nós usamos esses termos porque nos falta um nome mais adequado. Nos casos acima, ocorre uma figura de linguagem conhecida como catacrese.

Já imaginou, na mesa de jantar, surpreender seus pais quando eles falarem: “menino de Deus, vai ajeitar as pernas dessa calça!” Aí, todo ancho, você responde: “ os senhores e as suas catacreses, hein!”

Uma das figuras do pensamento que mais aprecio, pela gentileza que ela encerra, é o eufemismo. O eufemismo é uma figura que tem o poder de suavizar uma expressão desagradável. Todas as vezes que optamos por amenizar uma expressão para torná-la menos ofensiva ou dolorosa, nós usamos um eufemismo. Abaixo, vou postar um poema de Manuel Bandeira chamado PROFUNDAMENTE. Vocês podem lê-lo e/ou ouvi-lo. Quero apenas que vocês, nos comentários, identifiquem o trecho onde ocorre um eufemismo. Além disso, vocês poderiam construir duas frases dando, em cada uma, um exemplo de catacrese e de eufemismo. O que acham? Mãos à obra!

>Profundamente
Manuel Bandeira

Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.

No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam, errantes

Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?

— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.
*

Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?

— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.

Texto extraído do livro "Antologia Poética - Manuel Bandeira", Editora Nova Fronteira – Rio de Janeiro, 2001, pág. 81.