A palavra Islã significa submissão. Os muçulmanos têm como profissão de fé a submissão a Deus, no caso, Alá. Proclamar Alá como Deus único e Maomé como o seu último e mais importante profeta, além de seguir o Alcorão, são alguns dos aspectos dessa submissão. Portanto, a liberdade para um muçulmano consiste na aceitação desses pressupostos.
Na última 4ª feira, dia 21 de maio*, houve uma aula sobre o islamismo, envolvendo as áreas de História, Ensino Religioso e Artes Visuais.
Dei início à aula exibindo dois vídeos que estão no youtube e que serviram de mote para a explicação de alguns aspectos históricos do Islã, e, principalmente, para tratar de um valor caro a mim: a liberdade de expressão. De forma resumida, a minha exposição tratou do seguinte:
Nos dois primeiros meses de 2006, protestos violentos foram protagonizados por grupos muçulmanos em diversas partes do mundo. O motivo: charges publicadas em jornais dinamarqueses que criticavam, sempre com humor, aspectos do islamismo. A reação de grupos radicais islâmicos, conhecidos erroneamente como fundamentalistas, foi imediata. Fizeram passeatas, queimaram bandeiras dinamarquesas, gritaram palavras de ordem contra o ocidente e os Estados Unidos, repetiram palavras de amor ao profeta, a Alá, e, pasmem: ao terrorista Osama Bin Laden. O que havia nessas charges? Vejam vocês mesmos clicando aqui.
De todas as charges apresentadas, quero destacar a que está publicada no post. Dois aspectos nessa charge ofenderam a crença muçulmana: a charge exibe o profeta Maomé ( o nome correto é Mohamad, mas é mais fácil falar Maomé, acho) mostrando o rosto. Para um muçulmano isso é uma blasfêmia. Os muçulmanos rejeitam representaro seu profeta máximo dessa maneira, pois consideram idolatria. Outro aspecto é o gracejo que a charge faz com a crença islâmica de que aquele que se sacrifica – entenda, dá a vida - em nome do Islã, receberá, como recompensa, virgens no paraíso. São tantos homens-bomba que, brinca a charge, não há mais virgens disponíveis. No Alcorão não há uma sura sequer que prove ou comprove essa promessa. A crença nas "72 virgens" teria surgido de um "Hadith", palavras de Maomé, garantindo que, no paraíso, uma das recompensas mais simples a que tem direito cada muçulmano que faça jus ao Paraíso, é ter 80 mil criados e 72 mulheres. Desse "Hadith" até a idéia de que os muçulmanos terão no Paraíso 72 virgens, foi um pulo.
Em 3 de fevereiro de 2006, uma parte da comunidade islâmica em Londres fez uma manifestação em frente à embaixada dinamarquesa, veja aqui. Chamei atenção para um aspecto: no ocidente, os valores democráticos permitem que um grupo que se sinta ofendido, discriminado, proteste livremente. Imaginem vocês um protesto de cristãos em Riad, capital da Arábia Saudita? Imaginem manifestações de grupos radicais de judeus e cristãos em Teerã? Não imaginem, porque é simplesmente proibido.
É o Islã violento?
Muita gente tende a generalizar os conceitos fazendo uma relação direta entre terroristas que adotaram o islamismo como fé, e a religião. A confusão não pára aí. Confundem árabes com muçulmanos e vice-versa. A confusão fica assim:
O islamismo é uma religião violenta e seus seguidores são fanáticos, terroristas e assassinos. Como os árabes são muçulmanos, logo, todos os árabes são, no mínimo, suspeitos de serem terroristas.
Nada pior do que essas generalizações simplistas e preconceituosas. É verdade, reconheço, que as ações terroristas de grupos radicais muçulmanos, suas manifestações mundo afora, quase sempre violentas, ajudam, (e como!) a reforçar esse preconceito. Mas vamos corrigir algumas distorções:
1 – Ações terroristas não são exclusividades de grupos radicais muçulmanos. No ocidente, ainda há grupos que, apesar de cristãos, já adotaram ou ainda adotam ações terroristas. O IRA e o ETA, por exemplo. Até grupos sionistas (judeus) também já deram sua contribuição para o terror. Dessa forma, é importante não associar grupos terroristas à religião que eles professam. Não é verdade que todo muçulmano seja um terrorista, pior: que a religião islâmica justifica o terrorismo.
2 – Se é verdade que a maioria dos árabes é muçulmana, não é verdade que todos os muçulmanos do mundo, sejam árabes. Há, por exemplo, pequenos grupos de árabes no Líbano e em outros países da região, que são cristãos. Além do mais, desde a expansão islâmica após a morte de Maomé em 632, outros povos, não-árabes, converteram-se ao Islã. Hoje, o maior país muçulmano do mundo é a Indonésia, que não é árabe. Portanto, nem todo árabe é muçulmano, nem todo muçulmano é árabe.
* Esse texto foi escrito em maio de 2008.