terça-feira, 2 de março de 2010

O canto das Sereias


Todas às vezes que ouvia a estória do canto das sereias, que está na Odisséia, poema homérico do século VIII a C, ficava imaginando: "que canto mavioso, embora fatídico, poderia ser esse que atemorizava os marinheiros do mar Jônio?" Conta-nos Homero que o canto desses seres cabeça de mulher e corpo de pássaro que ficavam nos rochedos à espreita das embarcações, era tão bonito, tão encantador, que nenhum homem poderia ouvi-lo sem se deixar enfeitiçar por ele. Era justamente nesse momento que esses seres mitológicos devoravam suas vítimas.

Ulisses, homem astuto que criou o estratagema do cavalo de Tróia, permitindo que os gregos vencessem a guerra, como está narrado na Íliada, depois de dez anos longe de sua terra natal, a ilha de Ítaca, que fica a leste do Peloponeso, inicia sua viagem de volta não sem antes passar por inúmeras aventuras que fizeram o herói navegar por mais dez anos pelas águas do Egeu antes de chegar ao seu destino.

Numa dessas aventuras, Ulisses e seus homens aportam numa ilha onde vive a deusa Circe, cujo poder consiste em transformar homens em animais. A deusa interessa-se por Ulisses e sem muito esforço consegue satisfazer seus desejos com o herói homérico. Ao que parece, a satisfação da deusa foi completa, tanto, que ela adverte Ulisses do perigo das sereias e ainda ensina o herói a não apenas vencer esse perigo, como se tornar um dos dois mortais a ouvir o canto delas sem morrer.

A deusa recomenda a Ulisses que ordene a seus homens que o amarre bem forte ao mastro do navio. Antes, alerta a deusa, será preciso que os homens de Ulisses tapem os ouvidos com cera de abaelha para que eles não ouçam o canto mortal. Também sugere ao marinheiro que seus homens não o solte do mastro por mais que ele, desesperado, dê essa ordem. Seguindo essas instruções, garante Circe, Ulisses ouviria o canto das sereias sem ser devorado por elas.

Seguindo à risca as recomendações da deusa, Ulisses prossegue viagem e depara-se com o perigo. Como previra a divindade grega, nosso herói fica enlouquecido com o canto das sereias e ordena, aos berros, que seus homens o desamarrem, mas eles, surdos por causa da cera que tapava seus ouvidos, ignoram a ordem de seu comandante. As sereias, conta uma das versões, sem conseguir o intento de devorar aqueles homens, arremessam-se contra os rochedos que existem nas inúmeras ilhas da região, matando-se.

Ao ouvir essas estórias, repito, ficava imaginando como seria esse canto. Acho que talvez fosse parecido com este que deixo para vocês ouvirem, logo abaixo.


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