sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Os pioneiros das Américas





Leiam, abaixo, trecho de um artigo publicado em 2005 na revista Nossa História.

ACHADOS MOSTRAM QUE OS PRIMEIROS HABITANTES DO CONTINENTE SE PARECIAM MAIS COM OS POVOS DA AUSTRÁLIA E DA AFRICA DO QUE COM OS ÍNDIOS ATUAIS.



Eles foram os primeiros humanos a conhecerem as nossas terras. Se você está pensando nos portugueses, errou feio. Se nos índios, falhou novamente! Fisicamente eram semelhantes aos aborígenes australianos. Melhor pensar nos kung, da África do Sul, popularizados pelo filme Os deuses devem estar loucos. Trata-se do povo de Luzia. Sabemos agora que eles ocupavam toda a América Central e do Sul, e muito provavelmente a do norte também. Seus hábitos, organização social e estilo de vida eram parecidos com os dos índios atuais. Mas não eram agricultores: viviam exclusivamente da caça, da pesca e da coleta de vegetais e de outros produtos silvestres. No entanto, o que os distingue realmente dos indígenas que Cabral encontrou por aqui é sua biologia.

Os índios que vivem no Brasil e seus ancestrais remotos – que chegaram ao nosso continente há não muito mais do que 11 mil anos – são caracterizados por uma morfologia craniana (forma e feição da cabeça) similar aos asiáticos: mongóis, chineses e japoneses, por exemplo, denominados coletivamente como povos mongolóides. Já a feição dos primeiros americanos, que muito provavelmente chegaram ao Novo Mundo por volta de 13 ou 14 mil anos, era muito mais similar à dos australianos e africanos atuais. Sua morfologia craniana é denominada de “paleo-americana” (ou “australo-melanésia” no Velho Mundo). Não é correto chamá-los de “negróides”, já que não temos a menor ideia da cor da pele desses pioneiros. Essa é uma característica que passa por mudanças evolutivas muito rápidas, por ser uma resposta adaptativa à intensidade de insolação.

Mas uma coisa é certa. Estes povos também vieram da Ásia e entraram pelo estreito de Bering, que um dia já uniu o extremo norte do Alasca e da Sibéria. Mais tarde, os ancestrais dos índios atuais usaram a mesma rota. Pouca gente sabe, mas no leste da Ásia, antes do aparecimento da morfologia mongolóide, viveram povos similares aos autralo-melanésios de hoje e, portanto, muito parecidos com os paleo-americanos do passado.
Alguns autores acreditam que a morfologia mongolóide, caracterizada por uma cabeça arredondada, associada a uma face plana e larga, foi resultado da ação do frio intenso do norte asiático sobre a morfologia australo-melanésia. (caracterizada por uma cabeça oval, com a face projetada para frente e estreita). Outros acham que o fenômeno pode ter envolvido uma contribuição genética de europeus que chegaram à Sibéria pelo norte da Europa. De qualquer forma, há um certo consenso de que tal evolução se deu muito provavelmente entre o final do Plesistoceno e o início do Holoceno, em torno de 10 mil anos atrás. Por isso, não é necessário pensar em hipóteses mirabolantes, como por exemplo migrações pelo oceano da Austrália para a América do Sul, para explicar a presença no Novo Mundo de humanos similares aos aborígenes.

Este quadro começou a ser montado no final dos anos 80. Um de nós (Walter Neves), juntamente com o bio-antropólogo argentino Hector Pucciarelli, da Universidade de La Plata, analisou uma pequena amostra de crânios supostamente muito antigos, exumados pelo naturalista dinamarquês Peter Lund, na Gruta do Sumidouro, em Lagoa Santa, Minas Gerais, em meados do século XIX, comparando-os com esqueletos dos cinco continentes.

Walter Neves e Mark Hubbe; Revista Nossa História; Ano 2/n° 22; agosto de 2005. Págs 16 e 17.



Avaliando a compreensão do texto.

Há poucas certezas sobre o povoamento do continente americano. No entanto, as certezas que existem podem nos ajudar a compreender um pouco melhor esse assunto. Entre as certezas, destaco: a origem alóctone desses grupos, ou seja, os grupos humanos que ocuaparam a América são oriundo de outros continentes, como você pode observar no mapa que está no post abaixo. Além disso, esses grupos eram formados por humanos, isto é, já pertenciam ao gênero Homo e à espécie Sapiens. Não há dúvida também que houve duas ondas migratórias para a América. Uma mais antiga - a do povo de Luzia - e uma mais recente, que deu origem aos índígenas americanos. Finalmente, os cientistas acreditam firmemente que foi pelo estreito de Bering que esses grupos chegaram. 

Tais certezas, contudo, não impedem que perguntas importantes sobre o povoamento da América ainda não tenham uma resposta conclusiva. Por exemplo: em que época esses grupos chegaram? Há 15, 20 ou 30 mil anos? Há mais tempo que isso? Teria sido a rota pelo estreito de Bering a única rota de entrada? Há um grupo de cientistas que defendem a rota do Pacífico, embora essa hipótese seja bastante criticada pela maioria da comunidade científica.

Assistam a este vídeo


4 comentários:

Asterix disse...

Gostaria de saber se o crânio de luzia foi o unico crânio encontrado de sua especie, no video falam de luzia e seu povo, mas não é estranho que só achem um crânio mesmo tendo um povo?

Prof. Zé Paulo disse...

Foi não. Existem outros crânios na Colômbia e no México, além de no próprio Brasil com uma morfologia igual a de Luzia. Contudo, as datações são mais recentes. Entre 10 mil e seis mil anos.

Descobri, pesquisando na internet, uma entrevista com o Walter Neves. Vou publicar, em breve, uma parte dela no blog

Obrigado pelo comentário.

Unknown disse...

Zé, o DNA da Luzia e compatível igual dos atuais índios da América. E algumas tribos indígenas do Brasil tem gene próximo doa aborígenes Australianos, praticamente ainda tem esses primeiros descobridores da América vivos, tribos xavantes e uma das tribos. E na Amazônia tem alguma tribos com pessoas com pele escura.

Prof. Zé Paulo disse...

Iago, obrigado pela participação. No livro O Povo de Luzia, Walter Neves faz uma referência a esse dado que você expõe. O autor não é muito conclusivo, mas admite a possibilidade de que o povo de Luzia pode ter se misturado com o povo da segunda onda migratória, o que, segundo ele, explicaria essa similitude entre o DNA dos nativos atuais com o DNA do chamado povo de Luzia. Os críticos sugerem que talvez Luzia e os indígenas atuais, ao contrário do que defende Neves, são o mesmo povo.

Mais uma vez, obrigado pela sua participação!