O termo Renascimento Urbano apresenta duas dificuldades, ou se preferirem dois equívocos. O primeiro diz respeito à ideia de que as cidades haviam desaparecido na Alta Idade Média - o que não é verdade - e que estariam renascendo a partir do século XI. O segundo equívoco é o de que depois de séculos de ruralização, a população medieval, que crescia desde o século XI, finalmente havia se tornado urbana. Na verdade, na Baixa Idade Média cerca de 80% da população da Europa ainda vivia no campo. Ora, se era assim, por que se fala então de Renascimento Urbano?
O mais correto seria dizer que na Baixa Idade Média as cidades passaram por um processo de revitalização, impulsionadas, sobretudo, pelo crescimento da atividade comercial. As cidades medievais, chamadas de burgos, eram o local onde comerciantes e artesãos faziam seus negócios. Seus habitantes eram os servos que fugiam dos feudos (com o crescimento populacional os nobres não se importavam com essas fugas), artesãos, comerciantes e banqueiros. Esses grupos, com o tempo passarão a ser chamados de burgueses e formarão, no contexto da sociedade feudal, o terceiro estado ou terceira ordem.
Artesãos e comerciantes se organizavam em associações cuja finalidade era proteger os seus negócios e os fortalecer contra as constantes ingerências que os senhores feudais praticavam nos burgos e nos negócios. Embora os senhores feudais se beneficiassem em muitos casos das atividades de comércio, como as feiras próximas aos seus domínios, via de regra os nobres procuravam impor limitações à autonomia das cidades, daí a importância que os comerciantes e os artesãos viam na organização dessas associações.
Os artesãos se associavam em corporações de ofício. Nessas associações, formadas por artesãos do mesmo ofício, eram estabelecidas regras e diretrizes a que todo associado estava obrigado a obedecer e seguir. As coporações de ofícios estabeleciam o valor dos produtos; o salários dos trabalhadores; determinavam os fornecedores de matéria-prima; regulamentavam o treinamento de futuro artesãos; tinham um mecanismo de ajuda a membros da associação e a seus familiares em dificuldades; e garantiam uma reserva de mercado aos associados. Numa palavra, impediam a livre-concorrência e a competição entre os artesãos, especialmente de cidades rivais.
Numa organização semelhante estavam as Guildas, também chamadas de Ligas ou simplesmente corporações de comerciantes. Nesse tipo de associação os comerciantes de uma mesma cidade ou mesmo de cidades próximas buscavam apoio mútuo aos seus negócios, garantindo reserva de mercado e impedindo a concorrência com outras cidades. Uma das Ligas mais famosas da Idade Média foi a Liga Hanseática ou teutônica formada por cidades do norte da atual Alemanha. No sul, Veneza e Gênova tornaram-se dois polos de comércio porque controlavam as atividades comerciais no mar medietrrâneo, sendo responsáveis pela comercialização de especiarias de produtos de luxo vindos do Oriente.
Um dos simbolos tanto da revitalização da vida urbana como do comércio na Baixa Idade Média foram as feiras medievais. Essas feiras que ocorriam, geralmente, no entrocamento das rotas comerciais, e que não eram fixas, comercializavam o excedente da produção agrícola, a produção artesanal das cidades, as especiarias e os produtos de luxo.
Mas nem tudo eram flores para essa burguesia que enriquecia com o crescimento do comércio. Além das ingerências dos Nobres feudais sobre os negócios, os brugueses enfrentavam uma oposição da Igreja que via no lucro - especialemente dos banqueiros - uma modalidade de pecado. Santo Tomás de Aquino, por exemplo, em sua Suma Teológica, defendia que os preços deveriam obedecer a uma margem de lucro mínima, o "justo preço" a fim de evitar a gaância dos comerciantes e proteger os consumidores. No mesmo sentido, considrou a prática de emprestar dinheiro a juros (usura) - atividade essencial dos banqueiros - como pecado. Numa sociedade ainda fortemente marcada pela religiosidade essa oposição constituia-se num problema.
Outra dificuldade que assombravam os comerciantes, expecialmente os que investiam no oriente era a insegurança nas estradas, cheias de assaltantes. Como ainda não havia uma centralização político-administrativa na Baixa Idade Média, os brugueses estavam sujeitos a sistema de impostos confuso e a uma grande variedade moedas que podiam ameçar seus ganhos.
Mesmo com todas essas dificuldades, a vida urbana e as atividades comerciais colocavam a burguesia num patamar cada vez mais importante na organização social da Euroa e sua postrior aliança com os reis será decisiva para o nascimento das Monarquias Nacionais da Idade Moderna.
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