Leiam, abaixo, trecho de um artigo publicado em 2005 na revista Nossa História. No próximo post faço alguns comentários e deixo algumas perguntas que avaliarão a compreensão do texto e dos conteúdos vistos em sala de aula.
ACHADOS MOSTRAM QUE OS PRIMEIROS HABITANTES DO CONTINENTE SE PARECIAM MAIS COM OS POVOS DA AUSTRÁLIA E DA AFRICA DO QUE COM OS ÍNDIOS ATUAIS.
Eles foram os primeiros humanos a conhecerem as nossas terras. Se você está pensando nos portugueses, errou feio. Se nos índios, falhou novamente! Fisicamente eram semelhantes aos aborígenes australianos. Melhor pensar nos kung, da África do Sul, popularizados pelo filme Os deuses devem estar loucos. Trata-se do povo de Luzia. Sabemos agora que eles ocupavam toda a América Central e do Sul, e muito provavelmente a do norte também. Seus hábitos, organização social e estilo de vida eram parecidos com os dos índios atuais. Mas não eram agricultores: viviam exclusivamente da caça, da pesca e da coleta de vegetais e de outros produtos silvestres. No entanto, o que os distingue realmente dos indígenas que Cabral encontrou por aqui é sua biologia.
Os índios que vivem no Brasil e seus ancestrais remotos – que chegaram ao nosso continente há não muito mais do que 11 mil anos – são caracterizados por uma morfologia craniana (forma e feição da cabeça) similar aos asiáticos: mongóis, chineses e japoneses, por exemplo, denominados coletivamente como povos mongolóides. Já a feição dos primeiros americanos, que muito provavelmente chegaram ao Novo Mundo por volta de 13 ou 14 mil anos, era muito mais similar à dos australianos e africanos atuais. Sua morfologia craniana é denominada de “paleo-americana” (ou “australo-melanésia” no Velho Mundo). Não é correto chamá-los de “negróides”, já que não temos a menor ideia da cor da pele desses pioneiros. Essa é uma característica que passa por mudanças evolutivas muito rápidas, por ser uma resposta adaptativa à intensidade de insolação.
Mas uma coisa é certa. Estes povos também vieram da Ásia e entraram pelo estreito de Bering, que um dia já uniu o extremo norte do Alasca e da Sibéria. Mais tarde, os ancestrais dos índios atuais usaram a mesma rota. Pouca gente sabe, mas no leste da Ásia, antes do aparecimento da morfologia mongolóide, viveram povos similares aos autralo-melanésios de hoje e, portanto, muito parecidos com os paleo-americanos do passado.
Alguns autores acreditam que a morfologia mongolóide, caracterizada por uma cabeça arredondada, associada a uma face plana e larga, foi resultado da ação do frio intenso do norte asiático sobre a morfologia australo-melanésia. (caracterizada por uma cabeça oval, com a face projetada para frente e estreita). Outros acham que o fenômeno pode ter envolvido uma contribuição genética de europeus que chegaram à Sibéria pelo norte da Europa. De qualquer forma, há um certo consenso de que tal evolução se deu muito provavelmente entre o final do Plesistoceno e o início do Holoceno, em torno de 10 mil anos atrás. Por isso, não é necessário pensar em hipóteses mirabolantes, como por exemplo migrações pelo oceano da Austrália para a América do Sul, para explicar a presença no Novo Mundo de humanos similares aos aborígenes.
Este quadro começou a ser montado no final dos anos 80. Um de nós (Walter Neves), juntamente com o bio-antropólogo argentino Hector Pucciarelli, da Universidade de La Plata, analisou uma pequena amostra de crânios supostamente muito antigos, exumados pelo naturalista dinamarquês Peter Lund, na Gruta do Sumidouro, em Lagoa Santa, Minas Gerais, em meados do século XIX, comparando-os com esqueletos dos cinco continentes.
Walter Neves e Mark Hubbe; Revista Nossa História; Ano 2/n° 22; agosto de 2005. Págs 16 e 17.