"Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo." Fernando Pessoa
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
O Absolutismo e o Mercantilismo em vídeos
OBSERVAÇÃO:
NO SEGUNDO VÍDEO, NA PARTE FINAL, APARECE UMA FOTO DE UMA MULHER EM TRAJES DE MODA PRAIA. NÃO ENTENDI A RAZÃO DO AUTOR DO VÍDEO DE COLOCAR TAL IMAGEM. SE ALGUÉM SE SENTIR DESCONFORTÁVEL OU CONSTRANGIDO, POR FAVOR, É SÓ AVISAR!!!!
A Expansão Marítima em vídeos.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
As Grandes Navegações
No final da Idade Média, o mundo que os europeus conheciam resumia-se ao Oriente Médio ao norte da África e às Índias, nome genérico pelo qual designavam o Extremo Oriente, isto é, leste da Ásia.
Grande parte dos europeus conhecia apenas o Extremo oriente por meio de relatos; como o do viajante veneziano Marco Pólo, que partiu de sua cidade em 1271, acompanhando seu pai e seu tio em uma viagem àquela região.
A América e a Oceania eram totalmente desconhecidas pelos europeus.
Mesmo as informações de que os europeus dispunham sobre muitas das regiões conhecidas eram imprecisas e estavam repletas de elementos fantasiosos.
Durante os séculos XV e XVI, exploradores europeus, mas principalmente portugueses e espanhóis, começaram a aventurar-se pelo “mar desconhecido”, isto é, pelo oceano Atlântico e também pelo Pacífico e Índico dando início à chamada Era das Navegações e Descobrimentos Marítimos.
Os objetivos
No século XV, os países europeus que quisessem comprar especiarias (pimenta, açafrão, gengibre, canela e outros temperos), tinham que recorrer aos comerciantes de Veneza ou Gênova, que possuíam o monopólio destes produtos. Com acesso aos mercados orientais - Índia era o principal - os burgueses italianos cobravam preços exorbitantes pelas especiarias do oriente. O canal de comunicação e transporte de mercadorias vindas do oriente era o Mar Mediterrâneo, dominado pelos italianos. Encontrar um novo caminho para as Índias era uma tarefa difícil, porém muito desejada. Portugal e Espanha desejavam muito ter acesso direto às fontes orientais, para poderem também lucrar com este interessante comércio.
Um outro fator importante, que estimulou as navegações nesta época, era a necessidade dos europeus de conquistarem novas terras. Eles queriam isso para poder obter matérias-primas, metais preciosos e produtos não encontrados na Europa. Até mesmo a Igreja Católica estava interessada neste empreendimento, pois, significaria novos fiéis.
Os reis também estavam interessados, tanto que financiaram grande parte dos empreendimentos marítimos, pois com o aumento do comércio, poderiam também aumentar a arrecadação de impostos para os seus reinos. Mais dinheiro significaria mais poder para os reis absolutistas da época.
A partir de 1441, os portugueses passaram a utilizar caravelas nas suas viagens de exploração atlântica. Tal tipo de navio veio a revelar-se o mais adequado para a realização deste tipo de expedições, pois era um navio adaptado à exploração, rápido e usado como recurso de defesa de algumas armadas.
A caravela originalmente definia-se por transportar pano latino, o que lhe dava possibilidade de fazer um tipo de manobra que em mares não conhecidos se tornou indispensável: bolinar - possibilidade de recorrer a uma maior amplitude de ventos.
A caravela portuguesa era um navio de pequeno ou médio calado, que podia ter um porte que oscilaria em média entre os 40 e 60 tonéis, com uns catorze metros de quilha. Geralmente tinha dois mastros com velas latinas, embora as maiores pudessem apresentar três mastros. Tinha apenas um castelo de popa e uma coberta.
Na documentação quatrocentista à curiosa referência a um tipo de navio denominado de "caravela descobrir". Tal caravela seria um navio aperfeiçoado pelos portugueses que seria muito superior aos outros navios de velame latino, pois apresentava vergas latinas de grandes dimensões.
A tripulação de uma caravela poderia rondar os 20 ou 25 homens em média. A partir de finais do século XV e inícios do XVI sofre ajustamentos que deram à caravela um maior porte - passa a poder transportar 50 homens.
No século XVI a importância da caravela diminui, sendo destinada sobretudo a missões de apoio. Também nesse século apareceu um novo tipo de caravela, no qual um dos mastros passou a armar uma vela redonda, pelo que se denominou de caravela redondo.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Romance da Nau Catarineta
Antonio Nóbrega
Composição: Recriação literária de romance tradicional, por Ariano Suassuna.
Ouçam, meus senhores todos,
Uma história de espantar!
Lá vem a nau catarineta
Que tem muito que contar.
Há mais de um ano e um dia
Que vagavam pelo mar:
Já não tinham o que comer,
Já não tinham o que manjar!
Deitam sortes à ventura
Quem se havia de matar:
Logo foi cair a sorte
No capitão-general!
- Tenham mão, meus marinheiros!
Prefiro ao mar me jogar!
Antes quero que me comam
Ferozes peixes do mar
Do que ver gente comendo
Carne do meu natural!
Esperemos um momento,
Talvez possamos chegar.
Assobe, assobe, gajeiro,
Naquele mastro real!
Vê se vês terras de Espanha,
E areias de Portugal!
- Não vejo terras de Espanha
E areias de Portugal!
Vejo sete espadas nuas
Que vêm para vos matar!
- Vai mais acima, gajeiro,
Sobe no tope real!
Vê se vês terras de Espanha,
Areias de Portugal!
- Alvíssaras, capitão,
Meu capitão-general!
Já vejo terras de Espanha,
Areias de Portugal!
Enxergo, mais, três donzelas,
Debaixo de um laranjal!
Uma, sentada a coser,
Outra na roca, a fiar,
A mais mocinha de todas
Está no meio, a chorar!
- Todas três são minhas filhas:
Ah quem me dera as beijar!
A mais mocinha de todas
Contigo a hei de casar!
- Eu não quero a vossa filha,
Que vos custou a criar!
- Dou-te o meu cavalo branco
Que nunca teve outro igual!
- Não quero o vosso cavalo,
Meu capitão-general!
- Dou-te a nau catarineta
Tão boa em seu navegar!
- Não quero a catarineta,
Que naus não sei manobrar!
- Que queres então, gajeiro?
Que alvíssaras hei de dar?
- Capitão, eu sou o diabo
E aqui vim pra vos tentar!
O que eu quero, é vossa alma
Para comigo a levar!
Só assim chegais a porto,
Só assim vos vou salvar!
- Renego de ti, demônio,
Que estavas a me tentar!
A minha alma, eu dou a deus,
E o meu corpo eu dou ao mar!
E logo salta nas águas
O capitão-general!
Um anjo o tomou nos braços,
Não o deixou se afogar!
Dá um estouro o demônio,
Acalmam-se o vento e o mar,
E à noite a catarineta
Chegava ao porto do mar!
NAU CATARINETA
A Nau Catarineta é um episódio épico que lembra a Odisséia. É uma ode romanceada que pelo fascínio do seu enredo dramático e pelos mirabolantes efeitos pictóricos da coreografia, se transforma em um bailado. A história desenvolve-se a bordo de um navio que parte do Recife para Lisboa, na época das conquistas marítimas (1565), e que depois de cruentos combates e lutas dolorosas, chega, afinal, a um porto seguro.
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
"Se queres aprender a rezar, vai para o mar"
O título deste post é uma citação do fiel companheiro de D Quixote, o escudeiro Sancho Pança, do clássico de Miguel de Cervantes, D. Quixote De La Mancha. A expressão resume bem o temor que os homens tinham - na Idade Média, mas também na Idade Moderna - do mar. Muitos outros ditados poderiam ser citados para comprovar o pavor que o europeu do fim da Idade Média sentia do oceano. Um ditado dinamarquês, afirmava: " Quem não sabe rezar deve ir para o mar; e quem não sabe dormir deve ir para a igreja".
Mesmo depois das primeiras viagens oceânicas, o medo, a superstição, os relatos fantásticos persistiram nas crônicas da época. Num deles, um cronista afirmava que legiões de demônios foram vistas no mar em direção à França. Outro cronista afirmou que peixes gigantescos, verdadeiros monstros marinhos partiram, com um golpe de cauda, um navio ao meio. Enfim, o medo do mar e as crenças supersticiosas dos marinheiros não acabaram com as Grandes Navegações.
Abaixo, você poderá acompanhar - lendo e/ou ouvindo - o poema Mostrengo, de Fernando Pessoa.
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: “Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?”
E o homem do leme disse, tremendo:
“El-Rei D. João Segundo!”
“De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?”
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso,
“Quem vem poder o que eu só posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?”
E o homem do leme tremeu e disse:
“El-Rei D. João Segundo!”
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
“Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!”
clicando aqui você pode acompanhar uma animação muito curiosa sobre esse poema. Vale a pena, se sua alma não for pequena!
O pioneirismo português
De todos os reinos europeus, o primeiro que se lançou na aventura marítima, inaugurando o que os historiadores chamariam séculos mais tarde de Expansão Marítima e Comercial Européia, foi o reino de Portugal. Abaixo, é possível enumerar 4 grandes razões para isso:
- 1. a precoce centralização política.
- 2. a posição geográfica
- 3. o fato de Lisboa ser uma parada obrigatória de navios que vinham do mar Mediterrâneo em direção ao norte da Europa.
- 4. O desenvolvimento técnico dos instrumentos de navegação e de localização no mar; melhoria dos navios e o aperfeiçoamento da cartografia. Inovações em grande parte proporcionada pela escola de Sagres.
Um outra pergunta igualmente importante é por que os portugueses se lançaram nesta aventura? Mesmo temendo os monstros, os perigos do mar, por que se arriscaram tanto?
Embora não se possa descartar o espírito de aventura de muitos navegadores, a política da monarquia absolutista portuguesa, em aliança com a burguesia, de encontrar novas fontes de metais preciosos e um caminho alternativo para as índias, explica, em grande parte, a decisão das monarquia lusitana em apoiar o projeto marítimo. Havia, contudo, uma razão a mais: a expansão marítima portuguesa foi uma tentativa política de resistir ao assédio dos monarcas de Castela que sempre estavam atentos à possibilidade de anexar o reino de Portugal ao seu reino. Para impedir o perigo dessa anexação é que os reis portugueses da dinastia de Avis apoiaram as Grandes Navegações.
As Conseqüências
Se foram os portugueses os pioneiros da Expansão Marítima, não demorou muito para que o reino da Espanha e um pouco mais tarde os reinos da França, da Inglaterra e a república da Holanda também iniciassem suas viagens marítimas. Essa expansão mostrou aos europeus que o mundo era bem maior do que eles supunham.
Outra conseqüência importante foi a mudança do eixo econômico que passou do mar mediterrâneo para o oceano atlântico, o antigo mar tenebroso dos apavorados homens dos fins da Idade Média.
A expansão comercial foi o efeito imediato dessa expansão marítima. Nos séculos XVI e XVII mercadorias do mundo todo - da Ásia à Europa, passando pela África e pela América - circulavam pelos mares em navios portugueses, espanhóis, holandeses, franceses e ingleses. O que hoje a gente chama de Globalização já existia desde à época das Grandes Navegações.
Quando em 1498, Vasco da Gama chega às índias, duas mudanças ocorreram no comércio europeu: o monopólio na venda das especiarias que era exercido pelos comerciantes de Veneza e Gênova foi quebrado e o preço dessas especiarias caíram significativamente o que ajudou na popularização do consumo das mesmas.
Enfrentando o medo do mar, desenvolvendo novas técnicas náuticas, expandindo o comércio para os quatro quadrantes da Terra, os portugueses com suas viagens marítimas colocaram o Brasil nessa história. Mas isso fica para depois!