Confrontos entre grupos xiitas e sunitas libaneses em Beirute nesta terça-feira deixaram três mortos e vários feridos. O choque ocorreu a poucos blocos de um centro comercial que costuma ficar lotado de turistas nesta época do ano.
Soldados libaneses cercaram a área e impediram que jornalistas entrassem no local, mas durante horas era possível ouvir o som dos tiros e granadas.
A troca de tiros começou entre a milícia xiita Hizbollah e o conservador sunita Al Ahbash, após uma briga do lado de fora de uma mesquita na área residencial mista de Bourj Abu Haidar, segundo autoridades.
As autoridades informaram ainda que Mohammed Fawas, líder do Hizbollah na área, e seu assessor, Munzer Hadi, foram mortos no confronto, junto com Fawaz Omeirat, do Al Ahbash.
Um comunicado em conjunto divulgado posteriormente pelos dois grupos disse que o incidente foi resultado de "uma disputa pessoal e não tem nenhum pano de fundo político ou sectário".
Os dois lados disseram ter concordado imediatamente em por fim às diferenças e à presença armada nas ruas.
Combatentes colocaram fogo em uma mesquita na região próxima de Basta, segundo um fotógrafo da agência Associated Press.
Salah, de 40 anos, que não quis informar seu sobrenome, disse que estava dentro da mesquita Bourj Abu Haidar quando ouviu uma gritaria do lado de fora e pessoas pedindo calma. Vinte minutos depois, ele ouviu tiros atingindo a mesquita.
RIXAS
A disputa aconteceu quando o líder do Hizbollah, xeque Hassan Nasrallah, falava aos seus apoiadores, pedindo aumento da assistência militar do Irã e dos vizinhos árabes para o Exército libanês.
Foi o pior choque desde maio de 2008, quando homens armados do Hizbollah varreram as vizinhanças sunitas de Beirute após o governo pró-Ocidente tentar desmantelar a rede de telecomunicações do grupo.
Na época, o confronto deixou o país à beira de uma nova guerra civil. O Líbano tem um histórico de rixas sectárias mortais. As tensões têm se acirrado nas últimas semanas, após sinais de que um tribunal da ONU (Organização das Nações Unidas) pode indiciar o Hizbollah pela morte, em 2005, do ex-primeiro-ministro Rafik al Hariri.
Nasrallah disse ter informações de que o tribunal irá implicar membros do Hizbollah no crime, mas disse que se trata de um "projeto israelense" que "não tem credibilidade".
A Al Ahbash, ou Associação de Projetos Islâmicos de Caridade, é um grupo muçulmano conservador rival a muitos outros grupos sunitas no país. O nome do grupo tornou-se conhecido após o assassinato de Hariri. Dois altos representantes do grupo foram presos por cerca de quatro anos sob suspeita de envolvimento no crime, mas depois foram soltos.
Ao contrário do que muita gente pensa, o Islã não é uma religião monolítica, infensa à divisões ou ao sectarismo religioso. Na verdade, bem no início do Islã, no século VII, os muçulmanos se dividiram em duas correntes principais: os sunitas e os xiitas. Desde aquela época até os dias atuais, os sunitas formam a maioria dos muçulmanos. Alguns estimam que essa corrente represente cerca de 80% dos muçulmanos. O que sobra são formados por xiitas. Engana-se, porém, quem acha que essa divisão é simples assim. Entre os sunitas e xiitas há diversas seitas e correntes, portanto, imaginar o Islã como uma religião monolítica é um equívoco que vocês, alunos, não podem mais incorrer.
Qual a causa da divisão dos muçulmanos em sunitas e xiitas? O que caracteriza de modo geral as crenças de cada uma dessas correntes? Será que o que se sabe sobre elas está realmente correto? Vamos as respostas.
A divisão começou logo após a morte do profeta Mohamad (Maomé), em 632. Havia uma discussão sobre quem deveria suceder o Profeta. O sucessor (califa) deveria ser um descendente direto da família do Profeta ou poderia ser qualquer muçulmano escolhido pelos seus pares? Um grupo, o maior, entendia que o califa teria que ser escolhido pela comunidade islâmica e não deveria ser necessariamente um descendente direto da família de Maomé. Esse grupo ficará conhecido como sunitas. Já os xiitas entendiam que o califa deveria ser necessariamente um descendente da família de Maomé. Os dois grupos tinham os seus preferidos: os sunitas queriam Omar ou Abu Bacre, ambos sogros de Maomé; já os xiitas defendiam que Ali, primo de Maomé e casado com Fátima, a filha do Profeta, fosse o califa. Foi a partir da divergência sobre quem deveria ser o sucessor do Profeta e a forma de escolhê-lo que nasceu a divisão do Islã em sunitas e xiitas. Em tempo: Abu Bacre, Omar e Ali, acabaram se tornando califa, mas a divisão já estava consolidada.
Os sunitas além do Alcorão (Corão) consideram a Suna - livro que reúne os ditos e feitos do Profeta - um livro sagrado, embora dêem ao Alcorão uma importância bem maior. Além disso, os sunitas consideram que a revelação se esgotou no Alcorão, não havendo, portanto, mais nada no livro que possa ser revelado.
Os xiitas, por sua vez, e ao contrário do que muita gente pensa, não desprezam a Suna, embora dêem a esse livro uma importância bem menor do que é dada pelos sunitas. Como os sunitas, os xiitas crêem que no Alcorão não há mais nada a ser revelado, no entanto, acreditam nos ímãs, homens especiais, enviados por Deus, para esclarecer pontos ocultos no Alcorão. Esses pontos, segundo creem os xiitas, só podem ser revelados pelos ímãs. Dessa forma, uma maneira de distinguir os xiitas dos sunitas, é que os primeiros creem nos ímãs, os outros, não.
Finalmente, é um engano rotular os xiitas de radicais e os sunitas de moderados. Esse rótulo nos leva a um erro ainda mais grave: como os xiitas são radicais, os grupos terroristas islâmicos são todos xiitas; não havendo entre os sunitas extremistas islâmicos. A Al Qaeda, por exemplo, é um grupo terrorista sunita. Aliás, uma das seitas mais radicais do Islã, os Whababistas, é sunita. Enfim, há radicais extremistas dos dois lados.