domingo, 12 de abril de 2009

Harpias e Sereias

A semelhança entre essas duas criaturas mitológicas confunde a cabeça dos estudantes ou de gente que se interessa por mitologia greco-romana. Com efeito, tanto as Sereias, também conhecidas como Sirenes, quanto as Harpias, assemelham-se no fato de terem corpo de pássaro e cabeça de mulher. No entanto, enquanto as sereias têm como característica um canto mavioso que leva o marinheiro desavisado à desgraça, as Harpias nada cantam, e sua fama está em raptar crianças e almas, além de emporcalhar tudo que tocam.

Para ajudar na diferença desses dois seres da mitologia greco-romana, publico, abaixo, a definição desses dois verbetes presentes no dicionário de mitologia greco-romana publicado pela editora abril em 1973. Leiam.


AS SEREIAS


Filhas de Aquelôo e Melpômene, Esterópe ou Terpsícore, ou ainda do deus marinho Fórcis, segundo diferentes versões. Seu número varia de acordo com os autores: mencionam-se duas, três ou quatro. Também sobre seus nomes há discordância. Pela tradição mais comum, chamava-se Lígia, Leucósia e Partênope. Eram grandes pássaros, com cabeça de mulher, que habitavam uma ilha do mar mediterrâneo (mar Jônio), na costa meridional da Itália. Com seu canto melodioso, atraíam os marinheiros contra os recifes. Antes de sua transformação em pássaros, eram jovens companheiras de Prosérpina. Quando esta foi raptada por Plutão, solicitaram aos deuses que lhes dessem asas para poderem procurar a amiga tanto na terra quanto no mar. Segundo variantes da lenda, sua metamorfose deveu-se a um castigo de Ceres, por não terem impedido o rapto de sua filha, ou ainda a uma vingança de Vênus (Afrofite), porque desprezavam os prazeres do amor. Alguns heróis conseguiram escapar ao seu encanto. O rfeu salvou os argonautas, cantando mais alto e melodioso que elas; Ulisses tapou os ouvidos de seus companheiros e fez-se amarrar a um mastro para não sucumbir à tentação do canto das Sereias. Despeitadas por haverem sido vencidas, elas se atiraram ao mar. Uma tradição tardia descreve as sereias como criaturas metade mulher, metade peixe.


Fonte: dicionário de mitologia Greco-romana, 1973, página 167.



AS HARPIAS

“As raptoras”, designação de Aelo, Ocípite e Celeno, filhas de Taumante e Electra. Seus nomes significam, respectivamente, Borrasca, Vôo Rápido e Obscuridade. Tinham aspectos de mulheres aladas ou eram representadas como aves com cabeça feminina. Raptavam sobretudo crianças e almas. Costumava-se colocar sua imagem sobre os túmulos, carregando a alma do morto em suas garras. Fineu, rei da Trácia, atingido por uma maldição, foi insistentemente perseguido pelas Harpias: estas tiravam tudo que fosse colocado diante do rei, especialmente alimento: o que não conseguiam levar sujam com seus excrementos.


A pedido de Fineu, os Bóredas saíram no encalço das Harpias. O Destino havia determinado que elas só poderiam ser mortas se agarradas pelos filhos de Bóreas e, reciprocamente, estes morreriam se não as conseguissem pegar. Os jovens perseguiram-nas até que Íris, ou Mercúrio, declarou-lhes que, sendo servas de Júpiter, as Harpias não deveriam ser mortas. Elas prometeram deixar Fineu tranqüilo e refugiaram-se no “fim do mundo”, nas ilhas Estrófades. Enéias, após enfrentar terrível tempestade, ali aportou. Encontrando gordos rebanhos, tratou logo de abater alguns animais para apaziguar a fome da tripulação. Começavam a comer quando, vindas das montanhas, as Harpias arrebataram-lhes o alimento e sujaram tudo com o seu contato imundo. O herói troianoe seus companheiros tentaram matá-las, mas não o conseguiram. A harpia Celeno previu-lhes que atingiriam a Itália. Em seguida, refugiou-se com suas irmãs na floresta e os troianos abandonaram as ilhas de Estrófades. Segundo uma tradição, as Harpias uniram-se ao vento Zéfiro e tiveram Xanto e Bálios, cavalos de Aquiles, e Flogeu e Hapargo, cavalo dos Dióscuros.


Fonte: dicionário de mitologia Greco-romana, 1973, página 84.


sábado, 11 de abril de 2009

O Canto das Sereias


Todas as vezes que ouvia a estória do canto das sereias, que está na Odisséia, poema homérico do século VIII a C, ficava imaginando: "que canto mavioso, embora fatídico, poderia ser esse que atemorizava os marinheiros do mar Jônio?" Conta-nos Homero que o canto desses seres cabeça de mulher e corpo de pássaro que ficavam nos rochedos à espreita das embarcações, era tão bonito, tão encantador, que nenhum homem poderia ouvi-lo sem se deixar enfeitiçar por ele. Era justamente nesse momento que esses seres mitológicos devoravam suas vítimas.

Ulisses, homem astuto que criou o estratagema do cavalo de Tróia, permitindo que os gregos vencessem a guerra, como está narrado na Íliada, depois de dez anos longe de sua terra natal, a ilha de Ítaca, que fica a leste do Peloponeso, inicia sua viagem de volta não sem antes passar por inúmeras aventuras que fazem o herói navegar por mais dez anos pelas águas do Egeu antes de chegar ao seu destino.

Numa dessas aventuras, Ulisses e seus homens aportam numa ilha onde vive a deusa Circe, cujo poder consiste em transformar homens em animais. A deusa interessa-se por Ulisses e sem muito esforço consegue satisfazer seus desejos com o herói homérico. Ao que parece, a satisfação da deusa foi completa, tanto, que ela adverte Ulisses do perigo das sereias e ainda ensina o herói a não apenas vencer esse perigo, como se tornar o único mortal a ouvir o canto delas sem morrer.

A deusa recomenda a Ulisses que ordene a seus homens que o amarre bem forte ao mastro do navio. Antes, alerta a deusa, será preciso que os homens de Ulisses tapem os ouvidos com cera de abaelha para que eles não ouçam o canto mortal. Também sugere ao marinheiro que seus homens não o solte do mastro por mais que ele, desesperado, dê essa ordem. Seguindo essas instruções, garante Circe, Ulisses se tornaria o primeiro homem a ouvir o canto das sereias sem ser devorado por elas.

Seguindo à risca as recomendações da deusa, Ulisses prossegue viagem e depara-se com o perigo. Como previra a divindade grega, nosso herói fica enlouquecido com o canto das sereias e ordena, aos berros, que seus homens o desamarrem, mas eles, surdos por causa da cera que tapava seus ouvidos, ignoram a ordem de seu comandante. As sereias, conta uma das versões, sem conseguir o intento de devorar aqueles homens, arremessam-se contra os rochedos que existem nas inúmeras ilhas da região, matando-se.

Ao ouvir essas estórias, repito, ficava imaginando como seria esse canto. Acho que talvez fosse parecido com este que deixo para vocês ouvirem, logo abaixo.

Villa Lobos - Bachiana 5

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Os gregos em cordel

A música abaixo foi composta em 1982, por Zé Ramalho. A letra foi retirada de um cordel de Otacílio Batista, famoso poeta popular pernambucano, falecido em 2003. O seu cordel, Mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor, foi um grande sucesso na voz de Amelinha, alavancando a carreira da cantora cearense. As duas primeiras estrofes tratam de episódios da história da antiga Hélade e é justamente esses trechos (em negrito) que eu gostaria que vocês ficassem atentos.

MULHER NOVA, BONITA E CARINHOSA
FAZ O HOMEM GEMER SEM SENTIR DOR.



Numa luta de gregos e troianos
Por Helena, a mulher de Menelau
Conta a história de um cavalo de pau
Terminava uma guerra de dez anos
Menelau, o maior dos espartanos
Venceu Páris, o grande sedutor
Humilhando a família de Heitor
Em defesa da honra caprichosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor

Alexandre figura desumana
Fundador da famosa Alexandria
Conquistava na Grécia e destruía
Quase toda a população Tebana
A beleza atrativa de Roxana
Dominava o maior conquistador
E depois de vencê-la, o vencedor
Entregou-se à pagã mais que formosa
Mulher nova bonita e carinhosa
Faz um homem gemer sem sentir dor

A mulher tem na face dois brilhantes
Condutores fiéis do seu destino
Quem não ama o sorriso feminino
Desconhece a poesia de Cervantes
A bravura dos grandes navegantes
Enfrentando a procela em seu furor
Se não fosse a mulher mimosa flor
A história seria mentirosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor

Virgulino Ferreira, o Lampião
Bandoleiro das selvas nordestinas
Sem temer a perigo nem ruínas
Foi o rei do cangaço no sertão
Mas um dia sentiu no coração
O feitiço atrativo do amor
A mulata da terra do condor
Dominava uma fera perigosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor